A escravidão de africanos na colônia portuguesa da América foi a mais volumosa e duradoura do Ocidente. Ao partir da tríade pano, pau e pão, imortalizada pelo inaciano setecentista Andreoni (Antonil), a historiadora Ana Carolina de Carvalho Viotti descortina alguns dos consensos fundamentais estabelecidos à época sobre o trato dos escravos.
A escravidão parece, quando vista dos séculos XX, XXI, tão bárbara, tão brutal e cruel que custa-nos crer que se tratava, para a sociedade que se consolidou na América Portuguesa ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, de uma prática familiar, estável e, sobretudo, bastante regulada.
É isto que vem nos lembrar este instigante Pano, Pau e Pão: Escravos no Brasil Colônia. A escravidão, ao contrário do que frequentemente a indignação e um certo anacronismo nos levam a pensar, não é o reino do arbítrio, do imprevisível e do capricho do senhor; na verdade, a escravidão tinha regras estáveis. Este livro é uma porta de entrada para esse universo de regras e prescrições que tornou tão previsível, natural e prosaica uma forma de vida que, aos olhos contemporâneos, parece irracional, instável e quase inumana.
Circa l’autore
Ana Carolina de Carvalho Viotti é doutora em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/campus Franca), onde atua, também, como historiógrafa do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa Histórica (Cedaph). Pós-doutoranda em História das Ciências e da Saúde na Fundação Oswaldo Cruz. É autora, entre outros estudos, de As Práticas e os Saberes Médicos no Brasil Colonial (1677-1808); editora, com Gabriel Gurian, do Tratado de Medicina que Fez o Doutor Zacuto […]; e, com Jean Marcel Carvalho França, da Coleção de Várias Receitas e Segredos de Nossa Companhia (no prelo).