Um livro de contos deve fazer sentido como um todo, é uma premissa básica de seu gênero. Mas como compreender o incompreensível? Ao menos deve existir um elo, uma linha que conecte o início ao fim. Palíndromo é tudo aquilo que pode ser lido da mesma forma de trás para frente sem alteração na posição das letras, como arara, ou osso, ou Albert Camus. Camus tem razão em seu núcleo central ao afirmar que o absurdo permeia a existência humana, mas peca na conclusão. Segundo ele, Sísifo deve sentir-se feliz e realizado na concretização de seu esforço eterno e inútil. Errado. A revolta contra a existência deve necessariamente fazer parte da tomada de consciência do absurdo e de sua aceitação. Tão eterna e inútil quanto o rolar da pedra montanha acima, a lamúria interior ainda constitui um motivo de apego para Sísifo. Talvez o que traga sentido à sua pobre alma defasada seja a lamentação em si, pois ele sabe que ela é seu único brado de liberdade possível em um universo injusto e mau. E de novo deve rolar a pedra, e nada vai mudar, pois tudo é igual, erguer a pedra e vê-la cair, tudo igual, de trás para frente e de frente para trás.
O autorze
Vinícius Gadini é natural de Abelardo Luz, no interior de Santa Catarina, onde viveu até se mudar, aos 19 anos, para Porto Alegre. Escreveu seus primeiros contos após ler as obras de Jorge Luis Borges e sentir-se inspirado a fazer o mesmo. Entre seus autores principais estão, além de Borges, Machado de Assis e Ernst Hemingway.