‘O valor da vida, a vida como valor não se enraizaria no conhecimento de sua precariedade essencial?’, pergunta Georges Canguilhem (1904-1995) ao final do verbete Vida que escreveu para a Encyclopédie Universalis, publicado em 1973. Trata-se de uma passagem célebre entre aqueles que se dedicam ao estudo de sua obra, pois, no seio de seu trabalho, podemos dizer que a indagação sobre a vida e as possibilidades de refletir sobre ela se vincula com o engendramento de uma perspectiva epistemológica própria. A obra de Canguilhem comporta um raciocínio que ampliou as possibilidades da filosofia nas indagações sobre aquilo que vive. Nesse sentido, percebemos como a envergadura de sua obra alcança o domínio não só da filosofia, como também da medicina, psicologia, biologia, história das ciências, epistemologia.
Nos últimos anos, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da PUCPR tem se dedicado a ampliar a rede de pesquisadores interessados nas elaborações de Georges Canguilhem por meio de seminários, grupos de estudos, participações em eventos dentro e fora do Brasil, bem como por meio de publicações como esta. O leitor tem em mãos o terceiro volume da coletânea Georges Canguilhem em Perspectiva, a qual reúne uma série de artigos de pesquisadores do Brasil e de países como Chile, Argentina, França, Argélia, Itália. Neste último volume, a coletânea conta com trabalhos exclusivos de pesquisadores que compõe o grupo de trabalho A psicanálise revitalizada pela epistemologia histórica. Conforme o leitor poderá notar, cada capítulo que compõe este volume procura aprofundar temas inerentes à filosofia de Canguilhem que, como nos parece indicar cada autor à sua maneira, trata-se de uma filosofia inquieta diante da vida e das formas possíveis de se estabelecer um saber filosófico sobre esta.
Esperamos que este terceiro volume possa indicar aos pesquisadores brasileiros como a obra de Georges Canguilhem é profícua, atual e politicamente potente quando se procura estabelecer um saber sobre a vida que seja emancipados modelos teóricos totalitários que, para funcionarem enquanto saber, necessitam suplantar os modos singulares de existência, suas infindáveis possibilidades de construir novos arranjos nas relações com o meio e a normatividade que opera a partir dos valores vitais sentidos pelo vivente. Que este apanhado de capítulos possa arejar modos de leitura sobre as formas que a vida se manifesta e o modo como temos procurado apreender suas expressões singulares.
Об авторе
CAIO PADOVAN
Doutor em Psicopatologia e Psicanálise pela Université Paris Diderot, Paris 7 (2018). Mestre em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013). Psicólogo e Bacharel em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (2010). Desenvolveu estudos junto ao departamento de Filosofia e ao departamento de Letras desta mesma Instituição entre 2006 e 2010. Colabora atualmente com o departamento de Psicologia da Université Paul Valéry Montpellier 3 e é pesquisador a nível de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Editor associado da Revista Latino-Americana de Psicopatologia Fundamental e atual Atual coordenador da Phil Psy Ch, Rede de pesquisa em história e filosofia dos saberes psy e das ciências humanas. Possui interesse pelos seguintes temas: Psicopatologia, Psicologia clínica, História e filosofia da psicanálise, da psiquiatria e das ciências humanas.
CAIO SOUTO
Professor Adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) da mesma instituição. É Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (2013-2019) com estágio na Sorbonne-Panthéon Paris-I (2017), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (2010-2012), Licenciado em Filosofia pela Universidade de Franca (2015-2017) e Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004-2008). Advogado desde 2009. Concluiu estágio de Pós-Doutorado na linha de Filosofia de Psicanálise vinculada à Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2021-2022). É membro do GT Filosofia Francesa Contemporânea, do GT Filosofia e Psicanálise e do GT Neokantismo e Filosofia da Cultura, da ANPOF. Tem experiência de pesquisa na área de epistemologia histórica e filosofia contemporânea, em especial a partir de autores como Georges Canguilhem, Gaston Bachelard, Simone Weil, Jean Cavaillès, Alexandre Koyré, Michel Foucault e Friedrich Nietzsche. Também tem interesse nas epistemologias do sul, no pensamento africano, afrodiaspórico, latino-americano, ameríndio e brasileiro, sob uma perspectiva decolonial. É o criador do canal Conversações Filosóficas, no You Tube.
FRANCISCO VERARDI BOCCA
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela PUCCAMP (1985); bacharel e licenciado em Filosofia pela UNICAMP (1997); mestre e doutor em Filosofia pela UNICAMP (1994-2001). Pós-doutor em Filosofia pela UFSCar (2009) e pela Universidade de Paris VII – Denis Diderot (2014). Professor Titular do Programa de Mestrado e Doutorado em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atua nos seguintes temas: filosofia da história, psicanálise, materialismo e evolucionismo. Compõe a linha de pesquisa Filosofia da Psicanálise do PPGF-PUCPR, Compõe e lidera o grupo de pesquisa Filosofia da Psicanálise (PUCPR), compõe ainda os grupos de pesquisa Filosofia e Psicanálise (UFSCar), Filosofia e Práticas Psicoterápicas (UNICAMP) e o Centro de Estudos de História e Filosofia das Ciências Humanas (UFJF), cadastrados no CNPQ. No biênio de 2008 a 2009 ocupou a coordenação do G. T. Filosofia e Psicanálise da ANPOF. Membro associado da Associação Brasileira de Estudos do Século XVIII. Foi bolsista produtividade pela Fundação Araucária – PR no ano de 2013. É coautor da obra ‘Ontologia sem espelhos’ (Ed. CRV, 2015) (Reeditada em francês em 2019 pela editora L`Harmattan, Paris), autor da obra ‘Do Estado à Orgia’ (Ed. CRV, 2016) e co-autor da obra ‘O pêndulo de Epicuro’ (Ed. CRV, 2019). Atualmente é bolsista produtividade PQ-CNPq.