Um dos melhores romances americanos do século XX, obra de autora de apenas 23 anos cria retrato profundamente humano de personagens desajustados
Obra de estreia de Carson Mc Cullers, O coração é um caçador solitário (1940) é um mosaico de personagens que pulsam profunda humanidade em seus desajustes. O romance causou impacto imediato na crítica ao reconstruir a vida de uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos às vésperas da eclosão da Segunda Guerra Mundial.
A figura central é um trabalhador surdo, John Singer, com quem os outros personagens estabelecem conexões afetivas. Em torno de Singer gravitam Mick, uma adolescente andrógena, apaixonada por música; um médico negro, Benedict Copeland, bravo defensor da justiça para seu povo; Biff Brannon, dono de um café onde se reúnem as pessoas da vizinhança; e um frequentador beberrão, Jake Blount, revoltado com as injustiças do mundo.
Na rede sutil tecida por Mc Cullers encontramos o retrato do Sul marcado pelo racismo, em paralelo às notícias das atrocidades cometidas pelo nazismo. O escritor negro do Mississippi Richard Wright observou que Mc Cullers foi quem criou pela primeira vez, entre os escritores brancos, personagens negros com profundidade.
عن المؤلف
O nome de batismo de Carson Mc Cullers era Lula Carson Smith. Nasceu em Columbus, no Estado da Geórgia, filha de um casal de classe média, em 1917. Aos 17 anos, mudou-se para Nova York com a intenção de estudar música, mas desistiu depois de perder todo o seu dinheiro no metrô. Aos 20, casou-se com um aspirante a escritor, Reeves Mc Cullers, de quem se separou três anos depois e com quem voltou a se casar anos mais tarde, numa relação sempre tumultuada. A autora também se relacionou com mulheres. Sua vida foi marcada por doenças: sofreu de uma febre reumática aos 15 anos e teve uma série de derrames até morrer de hemorragia cerebral aos 50. Passou seus últimos anos numa cadeira de rodas. A escritora também sofreu de alcoolismo e teria tentado suicídio.
Mc Cullers escreveu ainda os romances Reflexos num olho dourado, Relógio sem ponteiros e A convidada do casamento, que originou uma peça de teatro escrita por ela mesma. Publicou ainda contos (parcialmente reunidos em A balada do café triste), ensaios e poesia. Certa vez disse: ‘Vivo com as pessoas que eu criei e isso faz minha solidão essencial menos dolorosa’. Fragmentos de uma autobiografia foram publicados postumamente.