Crônicas de costumes, observações espirituosas e análises sobre diversos países do mundo revelam faceta jornalista e observador da atualidade do romancista português
Conhecido mundialmente como um mestre do romance, Eça de Queiroz (1845-1900) também escreveu, durante muitos anos, crônica jornalística. Parte de sua colaboração em periódicos trata de assuntos internacionais, valendo-se do conhecimento e da experiência do escritor como diplomata. Ecos do mundo traz uma seleção desses textos, que se alternam entre observações espirituosas de costumes, análises detalhadas do xadrez geopolítico da época, reflexões sobre tendências intelectuais e artísticas em Londres e Paris e narrações que beiram a escrita ficcional.
O Brasil ocupa a primeira parte de Ecos do mundo — título inspirado na coluna ‘Ecos de Paris’, que Eça manteve no jornal carioca Gazeta de Notícias (de 1880 a 1897). Em nove crônicas, fica evidente que o escritor via o Brasil com simpatia, sobretudo quando comparado a Portugal — sem, entretanto, poupar o país e seus habitantes de sua célebre ironia.
Nas demais partes, estão reunidos artigos não só sobre os lugares em que Eça morou, Inglaterra e França, mas também sobre a Itália, a Turquia, a China, a Tailândia e outros países.
عن المؤلف
José Maria de Eça de Queiroz (1845-1900) nasceu em Póvoa do Varzim, norte de Portugal, de pais que não eram casados – só o fariam quatro anos depois. Essa situação, escandalosa para a época, talvez tenha contribuído para a visão profundamente crítica à moral da classe média portuguesa que o escritor imprimiu à sua obra. Eça ingressou aos 16 anos na Universidade de Coimbra, de onde saiu formado em Direito. Nesse período reuniu-se a outros jovens literatos, como Antero de Quental, que formaram o grupo conhecido como a Geração 70. Mudou-se para Lisboa, seguindo uma carreira de jornalista que continuaria em Évora e em sua volta para a capital. Em folhetins e na poesia, havia até então sido um adepto do Romantismo. Contudo, na volta a Lisboa, tomou parte no grupo de intelectuais conhecido como ‘O Cenáculo’. Sob a influência do escritor Gustave Flaubert e do teórico anarquista Pierre-Joseph Proudhon, aderiu ao Realismo.
Em 1870, publicou, em parceria com Ramalho Ortigão, o romance O mistério da estrada de Sintra. No mesmo ano ingressou na carreira diplomática e, dois anos depois, assumiu o posto de cônsul em Havana – seguida por cidades europeias. Em 1895, sob a influência do Naturalismo, publicou o romance O crime do padre Amaro, que provocou protestos da Igreja e de setores da sociedade. Três anos depois, O primo Basílio teve recepção semelhante, apesar do sucesso de vendas. Em 1888 saiu Os Maias, romance considerado sua obra-prima. Parte da extensa obra do escritor, como o romance A cidade e as serras, veio à luz postumamente. Eça, que deixou quatro filhos, morreu em Paris, de tuberculose.