Friedrich é um homem profundo, frequentemente ensimesmado, um grande homem em seu interior, mas que parece exteriormente um tolo.
Caroline Schlegel-Schelling
Muitas vezes Friedrich Schlegel permaneceu incompreensível, mesmo para seus amigos.
Walter Benjamin
O fragmento como forma de expressão filosófica é uma descoberta de dois românticos alemães, ambos chamados Friedrich. Um deles, Friedrich von Hardenberg, mais conhecido como Novalis, cultivou esse gênero de uma maneira ao mesmo tempo mais sóbria e mística, mais poética e reflexiva. Concebia os seus fragmentos como ‘sementes literárias’, como ‘grãos de pólen’, que deveriam ser acolhidos e estudados como ‘textos para pensar’. Embora esse caráter seminal também seja decisivo em Friedrich Schlegel (o outro Friedrich romântico a lançar mão do novo gênero), este utilizou o fragmento de uma maneira mais prosaica, concebendo-o não somente como ‘fermento’ da reflexão, mas também como instrumento da crítica e da polêmica. O fragmento é, para ele, a forma genuína da filosofia crítica, que não pode aceitar e deve estar sempre pronta para combater a letargia de qualquer pensamento que se apresente como um sistema acabado, pois a filosofia só existe como um sistema em vias de realização, como um sistema de fragmentos’.
Este volume da Biblioteca Pólen traz a tradução para o português de todos os fragmentos publicados em vida por Friedrich Schlegel. Eles foram editados em três coletâneas: Fragmentos Críticos (ou Fragmentos do Lyceum), Fragmentos do Athenäum (que, na verdade, são uma obra coletiva, pois também contêm fragmentos de Novalis, Schleiermacher e August Wilhelm Schlegel) e Ideias. O volume traz ainda, em notas, inúmeros fragmentos dos Anos de Aprendizado Filosófico, cadernos de estudos e reflexões em que Schlegel trabalhou por mais de vinte anos (1794–1818), e também fragmentos extraídos dos cadernos sobre Poesia e Literatura (1796-1823). Como apêndice, o volume traz uma ‘crítica dos fragmentos em fragmentos’ – que são os comentários críticos de Novalis aos fragmentos, espécimes da reflexão potenciada ou ‘reflexão da reflexão’ inventada e cultivada pelos românticos.
قائمة المحتويات
Sumário
Nota preliminar, 9
A GÊNESE DO FRAGMENTO, 11
Márcio Suzuki
O DIALETO DOS FRAGMENTOS
Sobre as notas, 21
FRAGMENTOS CRÍTICOS, 23
Lyceum, 25
Athenäum, 57
Ideias, 185
APÊNDICES
CRÍTICA DOS FRAGMENTOS EM FRAGMENTOS, 213
Novalis
Crítica dos fragmentos Athenäum, 215
Títulos dos fragmentos, 219
Anotações às Ideias de Friedrich Schlegel (1799), 247
عن المؤلف
Dados pessoais: Karl Wilhelm Friedrich von Schlegel (Hanôver, 10 de março de 1772 – Dresden, 12 de janeiro de 1829) foi um poeta, crítico literário, filósofo, filólogo, indologista e tradutor alemão liberal. Irmão mais novo do também filósofo August Wilhelm Schlegel, participou da primeira fase do Romantismo na literatura alemã, conhecida como Frühromantik ou Romantismo de Jena. Schlegel foi também um pioneiro nos estudos das línguas indo-europeias e da linguística comparada. A correspondência entre o ‘p’ latino e o ‘f’ germânico foi observada pela primeira vez por ele, em 1806, e seria o prelúdio da Lei de Grimm, em 1822, descrita em detalhes por Jacob Grimm. Os irmãos Friedrich e August Schlegel trabalharam a classificação tipológica das línguas, ou seja, a divisão morfológica ‘clássica’ de tipos de línguas: isolantes (ou monossilábicas), aglutinantes, flexivas (ou fusionantes) e polissintéticas.