Livro reúne textos que consagraram João do Rio como o inventor da crônica moderna brasileira. Seleção reúne material raro: maior parte das crônicas é inédita em livro
Quando João do Rio escrevia uma crônica, sabia estar criando algo mais que um texto efêmero, como são aqueles normalmente publicados em jornal. Paulo Barreto (1881-1921), cujo pseudônimo mais conhecido carrega o nome da cidade onde se tornou personalidade tão ilustre quanto controversa, dizia nunca ter separado jornalismo de literatura, procurando fazer do primeiro uma arte. Acabou criando um gênero novo não só no jornalismo, como na literatura brasileira.
João do Rio foi repórter numa época em que redator de jornal pouco saía do gabinete de trabalho. Ele, entretanto, rompeu essa tradição e subiu o morro para denunciar a formação do que se tornaria a primeira favela brasileira, saiu para entrevistar a gente do povo nas ruas e subterrâneos da cidade. Ao mesmo tempo, circulava com destreza entre a elite carioca, da qual descreveria os hábitos importados, os ambientes requintados e os luxos variados. De volta à redação, contava tudo isso de um jeito único, que logo se tornaria inconfundível. Misturava apuração e reportagem com uma boa dose de humor e ironia.
Quando morreu, antes de completar 40 anos, João do Rio já tinha produzido centenas e centenas de crônicas. Este volume reúne uma seleção desses textos, exumados de coleções de jornais envelhecidos, que mostram como, mais de um século depois, sua obra merece ser apresentada ao leitor do século XXI.
عن المؤلف
João do Rio foi o pseudônimo mais famoso de Paulo Barreto (1881-1921), um dos autores mais conhecidos – e controversos – do início do século XX no Rio de Janeiro. Cronista prolífico, ele também foi crítico de arte, escreveu romances, ensaios, contos, peças de teatro, conferências sobre dança, moda, costumes, política.
Ele foi pioneiro como repórter e criou um estilo de texto híbrido de literatura e reportagem, ficção e realidade. Mudou o modo de fazer jornalismo e ajudou a fundar a crônica moderna. O escritor que conquistou uma vaga na Academia Brasileira de Letras aos 29 anos era um personagem de múltiplas facetas. Usou sua pena para denunciar a miséria, foi porta-voz do povo humilde, que não tinha espaço na imprensa. Inovou ao deixar a redação do jornal e ir para a rua, subir o morro e percorrer os subterrâneos da cidade, para revelar a seu leitor um Rio de Janeiro desconhecido. Ao mesmo tempo, acompanhando as transformações da capital, que vivia, naqueles primeiros anos de República, a fase de sua Belle Époque, João do Rio foi também o cronista dos salões e recepções elegantes da alta roda – a elite que tentava se sofisticar e imitar os estrangeiros.
João do Rio percorreu o mundo, colecionou admiradores e desafetos. Gordo, mestiço e homossexual, vestia-se como um dândi – com, por exemplo, um fraque verde combinando com a bengala, cartola e monóculo. Vítima de um ataque cardíaco que o impediu de completar 40 anos, ele deixou 25 livros e mais de 2.500 textos publicados em jornais e revistas.