Com os dedos nas feridas abertas pela catástrofe nacional, Felipe Catalani se coloca diante das ‚fraturas de um Brasil anômico‘, fustigando a suspeitosa contraposição exposta entre a sangria desatada pela extrema direita e as frágeis ataduras do progressismo. Agora não basta apenas insistir na radicalidade da inerência entre o progresso e a barbárie, ambos nascidos do violento parto da modernidade, que uniu a ciência e a racionalidade da produção com a exploração, o patriarcado, a colonização, a expropriação e a consequente produção em série de uma massa de gente descartável e eliminável. Como a marcha continua sendo a do capital, mas a expectativa de um futuro melhor se dissolveu nas evidências de que ele só pode se reproduzir pelo colapso, é preciso reconhecer que abandonar a longa espera que educou tantas gerações é encarar, também, o ’novo tempo do mundo‘. Se no passado a espera foi interrompida, temporariamente, por processos revolucionários de esquerda que vinculavam as vítimas do progresso à tradição dos oprimidos e sua consciência de classe, os novos tempos são anunciados por quem proclama a guerra de todos contra todos pela sobrevivência, acelerando os tempos do fim. O enfrentamento ao progressismo tornou-se de direita e seu tom apocalíptico ganha adeptos dentre quem sobreviveu somente com os despojos do desenvolvimento capitalista. Ao dirigir-se ao contemporâneo, os textos reunidos em Cada um por si e o Brasil contra todos consideram a imensa desproporção entre o que devemos enfrentar e nossas capacidades de pensamento, imaginação e prática política. Não haveria outra saída para uma teoria crítica e anticapitalista.
Carolina Catini
Inhaltsverzeichnis
I
Aspectos ideológicos do bolsonarismo
A decisão fascista e o mito da regressão
A barbárie e os bárbaros
II
A desbanalização do mal
Tempestade de Al-Aqsa
O ‚enigma‘ dos motoboys em greve contra a CLT
Ilusões em progresso
Tempos críticos (entrevista)
III
Marighella
A Exceção pensada
Formação e desconstrução, de Paulo Arantes: como ler
Depois da meia-noite no século: Adorno e as análises do fascismo
De onde vêm os monstros
Educação após Hiroshima
A reaparição do demônio na fábrica
O nada na acepção brasileira do termo
Über den Autor
Felipe Catalani é doutor em filosofia pela USP. Autor de diversos artigos na área de teoria crítica e filosofia alemã, desponta como um dos principais intelectuais da nova geração.