Diante da imensa crise política em que nos vemos mergulhados, Lucas Keese dos Santos prefere perguntar aos Guarani Mbya, com quem convive há muitos anos, o que poderia ser a política. E a primeira resposta deles seria — em consonância com o que já havia notado Pierre Clastres (que esteve entre eles nos anos 1960) — que, em vez de buscá-la nas disputas por uma posição estável de poder e soberania, mais valeria investigar mecanismos capazes de conjurar modos de coerção e subordinação. Os Guarani Mbya indicaram ao autor que uma chave preciosa para compreender que a sua política reside nos movimentos de uma dança, ou dança-luta, que eles chamam de ‚dança dos xondaro‘ (xondaro jeroky). Esses movimentos são os da esquiva, os de ‚fazer errar‘ (-jeavy uka) o adversário. Nesse ponto, sugere o autor, o xondaro guarani se encontraria com a capoeira. Ambos têm na esquiva uma característica central, são danças-lutas forjadas por populações com longa história de subjugação, que precisaram aprender a se esquivar para seguir existindo.
– Renato Szutzman, no Prefácio
Über den Autor
Lucas Keese dos Santos é mestre em antropologia social pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha e convive com os Guarani Mbya apoiando-os em suas lutas desde 2009, quando passou a colaborar com esse povo por meio de oficinas de formação audiovisual e da realização de documentários. Nos anos seguintes, começou a se envolver em diversos projetos de fortalecimento cultural conduzidos pelas lideranças guarani e a assessorar suas organizações autônomas nos movimentos de luta pela terra, acompanhando de perto esse processo na Terra Indígena Tenondé Porã, no extremo sul da cidade de São Paulo. Atraído desde à primeira vista pela dança dos xondaro, busca aprender dia a dia com os Guarani a como se manter em movimento.