É simples a trama de Mrs Dalloway. Tudo se passa num dia de junho de 1923. Clarissa, esposa de Richard Dalloway, membro do Parlamento britânico, sai para comprar flores para a festa que dará à noite. No caminho passa por algumas das ruas centrais de Londres e por dois de seus principais parques, encontrando o amigo Hugh Whitbread. Seu trajeto cruza com o de outro personagem central, Septimus Warren Smith, que, acometido de um sério trauma de guerra, encaminha-se, com a esposa que conheceu na Itália, Rezia, para uma consulta com um importante psiquiatra.
Já em casa, Mrs Dalloway recebe a visita de um antigo namorado, Peter Walsh. Deixando a casa de Clarissa, ele empreende sua própria caminhada por Londres, regressando, depois, ao seu hotel, de onde sai, ao final da tarde, para a festa da antiga namorada. O romance culmina na festa de Mrs Dalloway, onde se encontram pessoas de suas atuais relações, como o próprio Primeiro-Ministro, e pessoas de seu passado: além de Peter Walsh, também Sally Seton, uma paixão da adolescência.
Um mosaico de cenas exteriores recheia a trama aparente do romance: a passagem de um misterioso automóvel carregando uma importante personagem política; as proezas de um avião escrevente; uma rusga entre a filha adolescente de Mrs Dalloway, Elizabeth, e sua preceptora, a Srta. Kilman; a aventurosa perseguição feita por Peter Walsh a uma senhorita que ele destacara da multidão; uma mendiga, próximo à estação de metrô do Regent’s Park, entoando uma canção ancestral; o trágico fim de Septimus.
Über den Autor
Quem foi Virginia Woolf? É o que ela mesma se pergunta, quase no fim da vida: ‚Quem era eu então? Adeline Virginia Stephen, a segunda filha de Leslie e Julia Prinsep Stephen, nascida em 25 de janeiro de 1882, […] no meio de uma enorme rede de relações, não de pais ricos, mas de pais bem situados na vida, nascida num mundo educado, extremamente afeito a se comunicar, a escrever cartas, a fazer visitas, a se expressar bem – o mundo do final do século dezenove‘ (Woolf, 1985, p. 65).
Virginia nasceu no nº 22 da rua Hyde Park Gate, no bairro londrino de Kensington. O pai, Leslie Stephen (1832-1904), era um conhecido escritor, tendo dedicado sua vida sobretudo a estudos biográficos. Viúvo, casara-se, em 1878, em segundas núpcias, com Julia Duckworth (1846-1895), também viúva, trazendo, ambos, filhos do primeiro para o segundo matrimônio (Leslie, uma filha; Julia, uma filha e dois filhos). Do novo casamento, resultarão mais quatro filhos: antes de Virginia, Vanessa (1879) e Thoby (1880) e, depois, Adrian (1883).
Do período inicial de sua vida, Virginia terá muitas e belas recordações dos verões passados numa casa de praia (Talland House) na Cornualha, na ponta sudoeste da Inglaterra, arrendada pelo pai um ano antes de ela nascer, e que servirá de cenário para o romance To the Lighthouse [Ao farol] (1927).
Virginia começa a escrever muito cedo. Com nove anos, redige, periodicamente, para uso da família, um jornalzinho a que dá o título de Hyde Park Gate News. Irá se dedicar a essa atividade, contínua e intensamente, pelo resto da vida. Além de nove romances, escreveu diversos contos e uma quantidade imensa de resenhas e ensaios críticos, espalhados por diversas publicações periódicas.