Uma das afirmações mais conhecidas de Benjamin talvez seja a de que saber orientar-se numa cidade não significa muito, mas perder-se requer instrução. Entre caminhadas e passeios por espaços diversos, o autor berlinense oferece, nos textos aqui reunidos, não apenas a deambulação de um flâneur destituído de mapa, mas também muito do seu próprio método de trabalho: as imagens de pensamento (Denkbild), que estão presentes nas percepções, nos relatos, nas visões e, sobretudo, nas análises inquiridoras acerca da atmosfera intelectual de uma Europa ameaçada por severas contradições políticas.
Moscou surge em seus apontamentos diarísticos como um labirinto, cheia de armadilhas, silenciosa e invernal. Benjamin aponta como o Estado sonhado por Lênin é instrumentalizado, de maneira bem diversa, pelo domínio stalinista. Com cores e arquitetura porosa, aparece Nápoles e seus pátios, tabernas, feiras, arcadas e escadas. Marselha, de luz rara, é descrita por meio de seus portos, prostitutas e docas. Já Paris é, para Benjamin, uma grande sala de biblioteca atravessada pelo Sena.
Além dos espaços citadinos, o sonho, o amor, a gula e o colecionismo também são motivos trabalhados. O uso do haxixe e de outros causadores de embriaguez são meticulosamente registrados como em um protocolo clínico. Recordações soterradas, a força do riso, a fome e a nostalgia são descritas por esse autor que desconfiava que ‚o fumador de ópio ou de haxixe tem a experiência do olhar que é capaz de encontrar cem lugares diferentes num único‘.
Über den Autor
Walter Benjamin
É um dos mais importantes pensadores do século XX. Filósofo, ensaísta, crítico literário e tradutor, abandonou sua carreira acadêmica após a rejeição de sua tese de livre-docência, intitulada Origem do drama trágico alemão, pela Universidade de Frankfurt, que a considerou pouco convencional. Escreveu peças para rádio, além de artigos para diversos jornais e revistas, entre elas a Zeitschrift für Sozialforschung, revista do Instituto de Pesquisa Social (mais tarde conhecido como ‚Escola de Frankfurt‘). Alemão, filho de judeus, deixou seu país em 1933 rumo a Paris, onde ficou até a invasão nazista. Em 1940, fugiu ilegalmente para Portbou, Espanha, onde suicidou-se para não ser capturado pela Gestapo. Benjamin deixou vasta e brilhante obra literária, além de ter contribuído enormemente para a teoria estética, para a filosofia, para o pensamento político e para a história.