Entre os dias 10 e 19 de novembro de 1919, Franz Kafka, insatisfeito com a fria recepção paterna diante do anúncio de seu noivado com Julie Wohryzek, escreveu ao pai, o comerciante judeu Hermann Kafka, uma longa carta – mais de cem páginas manuscritas. Kafka tinha então 36 anos, uma vida pessoal acanhada – nunca se casara ou constituíra família –, uma carreira mediana de funcionário burocrático e uma ambição literária ainda longe de estar realizada. Na carta, que nunca foi enviada ao destinatário original, Kafka põe a nu toda a sua mágoa em relação ao pai autoritário, que ele chama, alternadamente, de ‘tirano’, de ‘regente’, de ‘rei’ e de ‘Deus’. Além da carta fartamente anotada, a edição conta com um prefácio que explica fatos e circunstâncias relativas ao texto e à redação da carta, um glossário de expressões e nomes de pessoas citadas, uma cronologia biográfica de Kafka e a reprodução fac-símile de algumas páginas do documento.
Sobre el autor
Franz Kafka nasceu em Praga, filho de pais judeus de classe média. Sua infância e adolescência foram marcadas pela figura dominadora do pai, que mais tarde apareceria em sua obra associada tanto à opressão quanto à aniquilação da vontade humana. De 1901 a 1906, Kafka estudou Direito na Universidade de Praga, onde conheceu seu grande amigo – posterior biógrafo e depositário de sua obra – Max Brod. Em seguida, passou a freqüentar os círculos literários e políticos da pequena comunidade judaico-alemã. Concluído o curso, empregou-se em 1908 numa companhia de seguros, como inspetor de acidentes de trabalho. Apesar da competência profissional, Kafka sempre sentiu o toque da insatisfação no emprego, pois ele o impedia de dedicar-se totalmente à atividade literária. Afligido pela tuberculose, Kafka submeteu-se a longos períodos de repouso a partir de 1917, vindo a morrer em 3 de junho de 1924, em Kierling, perto de Viena. As obras-primas de Kafka, ‘O processo’ e ‘O castelo’, só seriam publicadas por Max Brod após sua morte. Carregada de uma ambiguidade onírica e levando as situações de absurdo existencial a limites jamais alcançados, a obra kafkiana – adjetivo que virou conceito na literatura ocidental – influenciou movimentos artísticos inteiros, como o surrealismo, o existencialismo e o teatro do absurdo.