A obra da socióloga francesa Gisèle Sapiro vai, aos poucos e ainda bem, sendo traduzida no Brasil e se tornando incontornável. Conhecida por suas investigações de inspiração bourdiana sobre traduções, autorias e os estudos da edição, neste livro que ora a editora Moinhos publica, Sapiro aborda, com coragem e profusão de exemplos, temas como a associação (ou não) entre vida e obra, biografia e literatura ou cinema, em casos amplamente conhecidos não apenas na França, mas no mundo.
Escritores, cineastas, filósofos e outras figuras intelectuais são postas em xeque diante de suas escolhas políticas, ideológicas ou da declaração de seus preconceitos, a despeito de terem produzido obras consagradas e/ou premiadas. Associações entre escritores e filósofos a ideias nazistas ou antissemitas, escândalos de abuso sexual no mundo do cinema, é possível dissociar os protagonistas desses casos de suas obras? Sublimar os efeitos disso sobre livros, filmes, teorias? Cabe a nós julgar e absolver?
Sapiro, neste volume, põe as cartas na mesa, desfia argumentos em muitas direções, tece redes entre outros pensadores da questão para, afinal, concluir que o tema é, de fato, complexo e merece ser debatido, cada vez mais e com novos elementos. Seja bem-vinda mais esta obra necessária da autora no Brasil.
Ana Elisa Ribeiro
Sobre el autor
Socióloga francesa, é diretora de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e diretora de estudos da École des Hautes Etudes em Sciences Sociales. Especialista em sociologia dos intelectuais, literatura e tradução, é autora de La Guerre des écrivains, 1940-1953 (Fayard, 1999, reeditada em 2006) e La Responsabilité de l’écrivain. Littérature, droit et morale em France, XIXe-XXIe siècle (Seuil, 2011). Dirige a coleção Culture et société no CNRS Éditions.