Um líder que ninguém jamais viu nomeia, por meio de seu mensageiro, um lugar-tenente para representá-lo em certo oásis do vasto deserto saariano. Os critérios para essa escolha não são claros. O ritual de unção do eleito, diga-se assim, envolve o uso de uma túnica que logo se revela um instrumento a um só tempo sutil e monstruoso de controle e dominação desse lugar-tenente. O enredo todo, com suas idas e vindas, é um grande pretexto para a discussão que de fato interessa ao autor: os processos de corrosão e devastação desencadeados pela sede de poder e pelas ambições desmedidas que a acompanham.
Mais do que uma alegoria sobre o poder, a novela O tumor, do líbio Ibrahim Al-Koni, é uma fantasia distópica sobre o poder. A trama se desenvolve no seio de uma sociedade desértica, num oásis, e, para além das soberbas descrições de costumes e do meio — Al-Koni é membro dessa etnia, que ele conhece como ninguém —, evidencia que a organização social do deserto, por mais rústica e distante que possa parecer à primeira vista, está mais próxima das sociedades modernas do que sonha a nossa vã filosofia.
A propos de l’auteur
Ibrahim Al-Koni nasceu em 1948, no deserto dos tuaregues, na Líbia, onde passou toda sua infância. Ele aprendeu a ler e escrever árabe apenas aos 12 anos e depois estudou literatura comparada no Instituto Gorky em Moscou, chegando a trabalhar como jornalista em Moscou e em Varsóvia. Hoje, Al-Koni é um dos mais prolíficos romancistas árabes contemporâneos e escreveu mais de 80 romances, contos, poemas e aforismos, todos inspirados no deserto.
Elementos mitológicos, busca espiritual e questões existenciais se misturam nos escritos de Al-Koni, que já foi considerado como um realista mágico, um fabulista sufi e um romancista poético. Seus livros foram traduzidos para mais de 35 idiomas. Em 2015, Al-Koni foi finalista do prêmio Man Booker International.