Embora algumas pessoas possam acreditar que o negacionismo não represente um grande risco à sociedade e à vida futura, a verdade é que ele pode ter consequências completamente desastrosas no modo como lidamos com a ciência e a nossa própria história. Não há vantagens morais, portanto, em submeter o pensamento crítico às fronteiras da desinformação e das teorias conspiratórias. Ser antinegacionista, então, significa honrar a ciência como um farol que guia nossas escolhas e decisões e lembrar, como Karl Popper disse em A sociedade aberta e seus inimigos, que a tolerância não é apenas um valor, mas também um método: ‘A tolerância não pode tolerar a intolerância, se deseja sobreviver’. Por isso, o negacionismo, enquanto fraude intelectual, política e recurso pedagógico, continuará se apresentando por intermédio de interesses escusos. Ele prosseguirá negando tudo, exceto a própria farsa. Ao negligenciá-lo, estaremos alimentando uma cultura da desconfiança e da divisão, além de colocarmos sob suspeita o árduo trabalho da ciência e o próprio respeito às instituições que são responsáveis por promovê-la, entre as quais está o ambiente escolar e a Universidade.
A propos de l’auteur
LÉO PERUZZO JÚNIOR
Pós-Doutor em Filosofia pela Università Ca´ Foscari, Veneza. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, da FAE Centro Universitário e da Faculdade Vicentina de Filosofia – FAVI. Autor de diversas obras, entre as quais O que pensam os filósofos contemporâneos: um diálogo com Singer, Dennett, Searle, Putnam e Bauman (PUCPRess, 2016) e As múltiplas faces da realidade: percepção, linguagem e cognição (CRV, 2021).