Como todos sabemos, Marilena Chaui é uma filósofa, e uma das maiores do país. O que nem todos sabem é que em sua trajetória ela jamais se contentou em manter a filosofia no panteão da busca da verdade universal e desinteressada. Pelo contrário. Seguindo muito do ensinamento da filosofia do século XX, sua obra manteve intenso diálogo com o que o francês Maurice Merleau-Ponty chamava de ‘não-filosofia’, ou seja, tudo aquilo que não sendo primordialmente filosofia pode fornecer conteúdos ao filósofo e lhe inspirar o pensamento.
Este volume apresenta um caso paradigmático do rico diálogo travado pela obra de Marilena com as ciências sociais brasileiras a partir de uma questão fundamental: o que é a cultura popular e qual forma específica ela assume em nosso país? O ponto mais alto dessa incursão foi Conformismo e
resistência. Aspectos da cultura popular no Brasil, aqui republicado junto a diversos ensaios, depoimentos, conferências e artigos de jornal produzidos nas décadas de 1970 e 1980. No conjunto, o material, especialmente revisto para esta edição, reconstitui uma investigação aprofundada em que a filósofa se esforça em apreender a originalidade da cultura popular como uma lógica ou um saber particulares, que, ao mesmo tempo em que adere ao status quo e reproduz o autoritarismo das elites, também é capaz de opor-se ao sistema e expressa o desejo de liberdade próprio das classes populares.
Pela primeira vez, esses textos aparecem reunidos num único volume, o que permite aos leitores descobrir (ou redescobrir em toda a sua envergadura) o quanto o trabalho da filósofa Marilena Chaui pôde propor uma interpretação original de um dos aspectos mais importantes da sociedade brasileira: a sua cultura popular, tal como se apresenta com suas peculiaridades.
A propos de l’auteur
Marilena Chaui
Formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), da qual é professora aposentada e onde coordena o Grupo de Pesquisa de Estudos Espinosanos. Dedicou seus estudos à História da Filosofia Moderna e à Filosofia Política, produzindo importantes obras sobre as filosofias de Espinosa e de Merleau-Ponty e sobre as questões da democracia e da crítica da ideologia. Ministrou cursos nas universidades de Paris, Pisa, Bolonha, Córdoba (Argentina), Stanford e Columbia. Foi Secretária Municipal de Cultura de São Paulo (1989-1992) e membro do Conselho Nacional de Educação (2002-2006). Recebeu o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) pelo livro Cultura e democracia; o prêmio Jabuti por Convite à Filosofia (que já vendeu mais de 60 mil exemplares) e por A nervura do real. Imanência e liberdade em Espinosa, obra pela qual também recebeu o prêmio Sérgio Buarque de Holanda (Biblioteca Nacional). Um de seus livros mais influentes é O que é ideologia? (Brasiliense), que já vendeu mais de 100 mil exemplares.