Em O buraco na parede, publicado em 1995, Rubem Fonseca surge como um criador de vidas humanas — algumas à beira de fenecer, outras prestes a assassinar. Aqui, ao depurar ainda mais seu estilo cru e conciso, uma simples palavra ou linha de diálogo pode descortinar, com ironia e lirismo, o que há de mais abjeto na alma dos personagens em suas jornadas ao inferno dos submundos urbanos. São oito contos nos quais o autor utiliza com destreza os mais diversos artifícios literários — monólogo interior (‘Orgulho’), metalinguagem (‘Artes e ofícios’), farsa (‘Idiotas que falam outra língua’), naturalismo (‘A carne e os ossos’) — para dissecar os elementos essenciais à nossa existência: nascimento, cópula e morte, muitas vezes unidos num único ato. Motivações e obstáculos se confundem: um balão de dez toneladas, o retrato da mãe, alguns parafusos na perna, um ghost-writer, uma doença, um feto em uma caixa de isopor, um furo na meia… um buraco na parede. Rompendo convencionalismos, Rubem Fonseca mais uma vez interroga o leitor, a sociedade, a literatura e a si mesmo.
A propos de l’auteur
RUBEM FONSECA
nasceu em 1925 e faleceu em 2020, pouco antes de completar 95 anos, deixando uma contundente obra com trinta livros, entre os quais romances, novelas, coletâneas de contos e O romance morreu, que reúne crônicas publicadas no Portal Literal. Entre seus principais títulos estão Lúcia Mc Cartney (1969), O caso Morel (1973), Feliz Ano Novo (1975), O cobrador (1979), A grande arte (1983) e Agosto (1990). Em 2013 publicou, pela Nova Fronteira, o volume de contos Amálgama, vencedor do prêmio Jabuti de sua categoria. Ainda recebeu outras cinco vezes o Jabuti; em 2003, os prêmios Juan Rulfo e Camões; e, em 2015, o Machado de Assis, concedido pela ABL, pelo conjunto da obra. Seu último livro publicado em vida foi a antologia de contos Carne crua, de 2018.