Nos derradeiros anos da ditadura civil-militar brasileira, uma família de artistas se reúne em sua casa de praia, antiga fazenda colonial na região de Paraty, litoral fluminense, por ocasião do aniversário de Antonio, estudante de medicina que deseja seguir a carreira dos pais – a atriz Teresa, que vive crise em sua carreira, e o cineasta Jonas, que, apesar de respeitado entre seus pares do Cinema Novo, não produziu obra de sucesso. Ao lado de agregados e empregados, os personagens se encontram na iminência de uma crise familiar, que se acentua em meio a discursos inflamados, discussões e acusações.
Escrita em 2018, em comemoração aos vinte anos da Companhia do Latão, Lugar nenhum inspira-se nos diários de trabalho e nas obras de Anton Tchékhov. À maneira de uma peça-ensaio, são exploradas as contradições e a paralisia de parte da intelectualidade brasileira frente às mudanças históricas que o país então vivia no fim da década de 1960. A aparência apática dos personagens é traço central que revela os entraves ideológicos entre arte, política e classe social.
A partir do modelo do autor russo, a peça propõe uma reflexão atual sobre aspectos que acompanham a sociedade brasileira desde o período colonial: a exploração do trabalho, o racismo, a violência institucional, entre outros elementos que culminam nas práticas naturalizadas de extermínio das populações periféricas, negras e indígenas no país.
लेखक के बारे में
Sérgio de Carvalho é dramaturgo, encenador e pesquisador de teatro. É diretor do grupo teatral Companhia do Latão, fundado em 1997. Professor na área de dramaturgia na Universidade de São Paulo, atua no departamento de artes cênicas da Escola de Comunicações e Artes desta universidade desde 2005.
Tem graduação em jornalismo, mestrado em artes cênicas (1995), doutorado em literatura brasileira (2003) e livre-docência em dramaturgia (2017). Foi professor de teoria do teatro na Unicamp entre 1996 e 2005 e colaborou com diversos veículos de comunicação, sendo cronista do jornal O Estado de S. Paulo. Realizou conferências na Casa Brecht de Berlim (2008), na Goethe Universidade de Frankfurt (2009) e em centros culturais da Argentina, Cuba, Espanha, Grécia, México e Portugal. Foi premiado como encenador pela União dos Escritores e Artistas de Cuba pela montagem de O círculo de giz caucasiano, de Brecht, em 2008. Entre seus muitos espetáculos estão O nome do sujeito (1998), A comédia do trabalho (2000), Ópera dos vivos (2010) e O pão e a pedra (2016). Editou as revistas de cultura Vintém e Traulito. Dirigiu também shows de música e filmes, como Senhorita L ou Valor de troca, para a TV Cultura, em 2007.