Em A Confraria dos Espadas temos os estranhos prazeres e as pequenas mortes cotidianas. Rubem Fonseca apresenta contos intensos nos quais, sob a égide da violência e da tragédia, machos e fêmeas da selva urbana encenam em tons eróticos e escatológicos seus peculiares rituais de acasalamento. Momentos de êxtase e últimos suspiros são intercambiáveis em narrativas como ‘Livre-arbítrio’, ‘Anjos das Marquises’, ‘A festa’ e ‘O vendedor de seguros’. Já no mordaz ‘AA’ a tensão carnal tem como pano de fundo uma estranha modalidade esportiva, enquanto no teatro metafísico e metalinguístico de ‘À maneira de Godard’ um Romeu e uma Julieta compartilham a fobia pelo órgão genital do sexo oposto. E, como um ‘brutalista’ que jamais abre mão da poesia, o autor encerra o volume nos semiversos de ‘Um dia na vida de dois pactários’, que, sintetizando as páginas anteriores, descreve a cópula como ‘um pacto de incêndio, contra esse espaço de rotina cinzenta entre o nascimento e a morte que chamam de vida’. Prolífero e fiel a seus valores estéticos e filosóficos, porém surpreendendo o leitor a cada obra, Rubem Fonseca congrega o sofisticado e o ancestral, que, aqui, sem que jamais lhes falte fôlego, passeiam entre a linguagem sóbria e espontânea e o experimentalismo e a erudição.
Tentang Penulis
RUBEM FONSECA
nasceu em 1925 e faleceu em 2020, pouco antes de completar 95 anos, deixando uma contundente obra com trinta livros, entre os quais romances, novelas, coletâneas de contos e O romance morreu, que reúne crônicas publicadas no Portal Literal. Entre seus principais títulos estão Lúcia Mc Cartney (1969), O caso Morel (1973), Feliz Ano Novo (1975), O cobrador (1979), A grande arte (1983) e Agosto (1990). Em 2013 publicou, pela Nova Fronteira, o volume de contos Amálgama, vencedor do prêmio Jabuti de sua categoria. Ainda recebeu outras cinco vezes o Jabuti; em 2003, os prêmios Juan Rulfo e Camões; e, em 2015, o Machado de Assis, concedido pela ABL, pelo conjunto da obra. Seu último livro publicado em vida foi a antologia de contos Carne crua, de 2018.