HEMINGWAY EXPLORA DE FORMA SENTIMENTAL O AMOR, A MORTE E O CHOQUE COM O MUNDO EM QUE VIVE
Do outro lado do rio, entre as árvores demonstra uma vez mais a precisão formal com que Ernest Hemingway escrevia: a linguagem direta, as pinceladas curtas, o todo descrito pela exatidão minuciosa do pormenor, as personagens reais, palpáveis quase. Na época de seu lançamento, os críticos americanos e ingleses receberam com fortes reservas o novo livro do já então famoso Hemingway, embora ele próprio o considerasse uma dos melhores que já escrevera. Em Do outro lado do rio, entre as árvores, o autor, pela primeira vez, explora de forma sentimental o amor, a morte e o choque com o mundo em que vive. Como protagonista da história, tem-se o coronel Richard Cantwell, da Infantaria dos Estados Unidos, que aos cinquenta anos se vê dominado por um tédio existencial e regressa ao norte da Itália numa espécie de busca do tempo. Depois dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, com famílias ainda chorando pelos mortos, e civis e militares caminhando rancorosos pelas ruas, os relatos de Cantwell impregnam-se de melancolia de quem viu como tudo aconteceu. Hemingway coloca muito de si próprio na figura do coronel, nesse retorno simbólico à juventude e à paixão por uma linda mulher mais jovem. Contudo, a comunhão de fundo com diversas e curiosas aproximações possíveis entre o protagonista e o romancista não se prende às coincidências factuais, e sim a um sentimento de exaustão em relação às guerras.
Circa l’autore
Ernest Hemingway nasceu em 21 de julho de 1899, em Oak Park, cidade próxima a Chicago, Estados Unidos. Viveu em Paris, Espanha e Cuba. Suicidou-se em 2 de junho de 1961, com um tiro de seu fuzil predileto. Residia em Idaho, estado americano que faz fronteira com o Canadá.