Neste ensaio vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico de 2024, o jornalista e professor Eugênio Bucci reflete sobre a evolução de um conceito que nos desorienta e nos desconcerta: a incerteza. Como pensamos essa ideia incômoda? Como a representamos? Como podemos lidar com o incerto que faz parte central da nossa vida?
O tema não é novo. No século XX, porém, virou uma obsessão de pensadores em campos diversos, da matemática à termodinâmica, da economia à política. O estudo da incerteza trouxe novos conhecimentos sobre o risco, e quem domina os artifícios para se safar dos riscos tende a ganhar mais dinheiro. O capitalista decifra as dissimulações do mercado traiçoeiro e fica mais rico. No século XXI, então, o negócio da incerteza orienta os destinos do mundo digital. As máquinas participam da gestão do dinheiro e das coisas públicas. Os algoritmos mapeiam intimidades e decifram o circuito secreto do desejo de cada indivíduo. O tempo e o espaço ficaram muito mais incertos para os seres humanos do que para as máquinas.
E então? Como pensar sobre o que nos engole? A Inteligência Artificial trabalha sem descanso. A inteligência humana ainda funciona? Ela ainda existe?
Circa l’autore
Eugênio Bucci, nascido em Orlândia (SP), em 1958, é professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Escreveu, entre outros livros, A forma bruta dos protestos, O Estado de Narciso e Sobre Ética e imprensa (publicados pela Companhia das Letras). Recebeu o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2013, pela Revista ESPM de Jornalismo (edição brasileira da Columbia Journalism Review). Foi Secretário Editorial da Editora Abril, presidente da Radiobras (entre 2002 e 2007, no primeiro governo Lula) e editor da revista Teoria & Debate.