As pretensões literárias de um sexagenário que sonha em ter seu livro publicado parecem estar prestes a se realizar quando ele recebe a proposta de uma grande editora de Viena. Neste curto romance, um dos grandes nomes da literatura italiana, Italo Svevo, cria uma espécie de fábula, em tom de farsa, sobre a presunção literária, a busca pelo sucesso e o reconhecimento da crítica.Mario Samigli tem 60 anos e vive com o irmão, que sofre de gota, em Trieste. Tem uma vida vagarosa, porém feliz, com um emprego burocrático que lhe garante um salário ao fim do mês. Essa existência é temperada pelo sonho de um tardio reconhecimento público de seu talento como literato.
A produção de Samigli como escritor resume-se a um romance escrito quatro décadas antes e às fábulas sobre pequenos animais, como moscas ou pardais, que rabisca diariamente. Até que um amigo apresenta-lhe ao intermediário de um grande editor de Viena interessado em adquirir, por 200 mil coroas, o direito de tradução, em todo o mundo, de seu livro de juventude. O projeto logo se revelaria uma farsa.
Uma gozação bem-sucedida, do italiano Italo Svevo (1861-1928), se passa em 1918, ano em que a cidade portuária de Trieste sai do domínio austríaco e é finalmente anexada à Itália. Esse ‘curto romance de uma brincadeira’, como classificou certa vez seu autor, chega ao Brasil pela primeira vez pela CARAMBAIA, com tradução e posfácio de Davi Pessoa, professor de literatura italiana na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e projeto gráfico de Elisa von Randow.
Circa l’autore
Italo Svevo (1861-1928) escreveu dois romances na juventude, editados por conta própria, que foram ignorados por público e crítica. Depois do insucesso, deixou a literatura e foi trabalhar na firma de pintura de navios do sogro. Com mais de 40 anos, Svevo resolve estudar inglês por necessidades profissionais. Tem como professor um jovem irlandês de vinte e poucos anos que passava uma temporada em Trieste: James Joyce. Os dois se tornam amigos e é Joyce quem acaba estimulando Svevo a voltar a escrever, depois de ter lido, entusiasmado, os dois livros esquecidos. Apenas aos 62 anos Svevo lançaria a obra que, enfim, o consagraria: ‘A consciência de Zeno’. ‘Uma gozação bem-sucedida’ foi escrito três anos depois. Perto de sua morte – Svevo faleceria em um acidente automobilístico em 1928 –, o autor parece criar uma fábula, em tom de farsa, sobre o próprio percurso.