Dono de profunda precisão verbal, Lucchesi não é um autor qualquer. Seu texto foge da simplicidade, mas se mantém aberto à criação. O resultado é uma mistura de prosa e poesia, numa linguagem que encanta e hipnotiza. Tradutor, ensaísta e poeta premiado, Lucchesi volta seu talento para outro gênero e se lança, pela primeira vez, ao romance com o aguardadíssimo O DOM DO CRIME.
Lucchesi cria um delicioso narrador-autor, não identificado, que conta uma história para o futuro. Um homem do século XIX que, ao ser aconselhado pelo médico a escrever suas memórias, se lança não para a própria vida, mas sobre um crime passional, notícia no Rio de Janeiro de Machado de Assis. Esse misterioso narrador traça paralelos curiosos entre este assassinato, o julgamento que absolve o marido supostamente traído e a obra mais aclamada de Machado, Dom Casmurro.
Terá o Bento de Machado qualquer coisa do real José Mariano? E Capitu teria sido inspirada em Helena, a esposa que sucumbe ao ciúme do marido? Todos os dados de ordem informativa, factual, foram longamente pesquisados e comprovados, em papel velho e fontes congêneres — tudo passou pelo crivo de Lucchesi. Mas, para além disso, o romance traz uma flutuação permanente entre literatura e documento, história e ficção.
Em O DOM DO CRIME, real e ficcional se entrelaçam numa obra de fôlego, em que os julgamentos dificilmente encerram a verdade dos fatos, a complexidade da vida. ‘Precisei realizar essa dinâmica todo o tempo, de modo a que o leitor se perguntasse, como num jogo, onde começa esta e onde termina aquela’, argumenta Lucchesi.
Circa l’autore
Marco Lucchesi, carioca, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicou, dentre outros livros, Ficções de um gabinete ocidental, A memória de Ulisses, Meridiano celeste, Sphera, Poemas reunidos (finalista do Prêmio Jabuti 2002), Os olhos do deserto, A sombra do Amado: poemas de Rûmi (Prêmio Jabuti 2001), O sorriso do caos, Bizâncio (finalista do Prêmio Jabuti de Poesia 1999). Organizou as edições de Jerusalém libertada, de Tasso, e de Leopardi: poesia e prosa, Artaud, a nostalgia do mais e Caminhos do Islã. É tradutor de diversas obras, entre elas A ilha do dia anterior (finalista do Prêmio Jabuti 1996) e Baudolino (finalista do Prêmio Jabuti 2002), de Umberto Eco.