Novela inglesa retrata com fino humor a decadência e frivolidade da alta sociedade do início do século XX
Em Imodéstia, a descoberta de um fragmento original de Safo, célebre poeta grega, motiva a sra. Henedge, uma pomposa aristocrata, a organizar um jantar suntuoso para revelar o poema publicamente. O encontro reúne personalidades ilustres envolvidas numa atmosfera repleta de discursos e conversas pretensiosas.
Aromas, vinhos e performances embalam uma trama de diálogos velozes, com sujeitos que ora desafiam as normas sociais – seja por meio da arte, seja por meio de suas próprias identidades e discursos –, ora evidenciam a deterioração da aristocracia à medida que seus desejos parecem não se concretizar – como acontece com a sra. Shamefoot, uma mulher rica cujo principal sonho antes da morte é se ver retratada em um vitral de igreja.
Ronald Firbank, considerado por Edmund Wilson como ‘um dos melhores escritores ingleses de seu tempo’, era também um esteta e passou boa parte da vida viajando pela Europa e Oriente Médio. Frequentou círculos literários, sobretudo em Paris, onde se destacava por seus trajes extravagantes e bem cortados. Dono de modos singulares, sua excentricidade era pontuada por comentários invariavelmente oblíquos. ‘Exageradamente feminino, sofisticado, cosmopolita e 'elegante'’, diria dele um ex-colega de Cambridge.
Circa l’autore
O inglês Ronald Firbank (1886-1926) é o autor de nove romances curtos, produzidos no intervalo de pouco mais de uma década. Sua obra, apesar de cultuada por escritores e críticos literários da Europa e dos Estados Unidos, nunca havia sido editada no Brasil. Admirador da literatura francesa, sobretudo de autores como Charles Baudelaire e J. K. Huysmans, ou do belga Maurice Maeterlinck, e de nomes do decadentismo inglês como Oscar Wilde, Aubrey Beardsley e Ernest Dowson, Firbank era também um esteta, e passou boa parte da vida viajando pela Europa e Oriente Médio. Tendo vivido em um período no qual a homossexualidade era ilegal na Inglaterra, Firbank colocou em cena personagens que se relacionam com outros do mesmo gênero, explorando esse universo em seus textos. Tornou-se, assim, referência para estudos posteriores sobre literatura LGBT.