Cantuária, o nome de uma cidade como Madeleine proustiana, capaz de despertar tanto as memórias verdadeiras, quanto aquelas inventadas por mera necessidade. Essa é a frágil liga entre dois personagens de meia-idade, já exaustos e desconfiados da vida, que são apresentados por Mrs. Dalloway, numa de suas festas. Um encontro às cegas que logo vira armadilha, num evento social que parece ter a arquitetura de uma jaula.
Virginia Woolf nos arremessa em meio ao desconforto desse encontro sem qualquer receio: ‘Mrs. Dalloway os apresentou, dizendo você vai gostar dele.’ A intuição da criação mais famosa de Woolf se transforma numa espécie de maldição de bolso, quando Mr. Seele e Miss Anning começam a perceber que há um ruído nas memórias da Cantuária que dividem. E pior: se continuarem a compartilhar as lembranças, aos poucos, correm o risco de perceber que não há mais Éden para onde voltar. Juntos e separados traz outra vez a maestria de Woolf para nos alertar da fragilidade das nossas certezas.
Circa l’autore
Virginia Woolf (1882-1941) é uma das escritoras mais importantes do século XX e um dos nomes mais relevantes do Modernismo. Para além de Mrs. Dalloway (1925), seu romance mais popular, a autora britânica também escreveu contos, textos autobiográficos, ensaios e histórias infantis. Conhecida por um estilo ímpar, Woolf encontrou uma linguagem para representar a consciência de suas personagens, perscrutando sua interioridade. A escritora participou ativamente dos debates de seu tempo, tanto literários como sociais, realizando palestras, escrevendo artigos e fazendo parte do famoso grupo de Bloomsbury. Ao lado de seu marido, Leonard Woolf também fundou a editora Hogarth Press.