Orlando, um arremedo de biografia, descreve a vida do personagem homônimo, descendente de uma ancestral família aristocrática inglesa, que, no começo da narrativa, vive no século XVI, é homem e tem 16 anos. Acompanhamos sua vida por cerca de quatro séculos, na maior parte dos quais se mantém com a idade de 30 anos. No meio da narrativa, enviado pelo rei Charles II, como embaixador da Inglaterra, a Constantinopla, ele passa por uma transformação radical.
Além de homenagear Vita Sackville-West, a aristocrata que serviu de modelo para a figura de Orlando, e de jogar com as convenções da biografia tradicional, Virginia explora aqui alguns dos seus temas preferidos: a incongruência entre, de um lado, o tempo do relógio e do calendário e, de outro, o tempo vivido, subjetivo; o caráter fragmentado, múltiplo e incerto da subjetividade; e, sobretudo, a instabilidade e a artificialidade da identidade sexual.
A presente edição, com posfácio de Silviano Santiago, é enriquecida com as ilustrações da edição original e com extensas notas do tradutor.
Circa l’autore
Virginia Woolf
Quem foi Virginia Woolf? É o que ela mesma se pergunta, quase no fim da vida: ‘Quem era eu então? Adeline Virginia Stephen, a segunda filha de Leslie e Julia Prinsep Stephen, nascida em 25 de janeiro de 1882, […] no meio de uma enorme rede de relações, não de pais ricos, mas de pais bem situados na vida, nascida num mundo educado, extremamente afeito a se comunicar, a escrever cartas, a fazer visitas, a se expressar bem – o mundo do final do século dezenove’ (Woolf, 1985, p. 65).
Virginia nasceu no nº 22 da rua Hyde Park Gate, no bairro londrino de Kensington. O pai, Leslie Stephen (1832-1904), era um conhecido escritor, tendo dedicado sua vida sobretudo a estudos biográficos. Viúvo, casara-se, em 1878, em segundas núpcias, com Julia Duckworth (1846-1895), também viúva, trazendo, ambos, filhos do primeiro para o segundo matrimônio (Leslie, uma filha; Julia, uma filha e dois filhos). Do novo casamento, resultarão mais quatro filhos: antes de Virginia, Vanessa (1879) e Thoby (1880) e, depois, Adrian (1883).
Do período inicial de sua vida, Virginia terá muitas e belas recordações dos verões passados numa casa de praia (Talland House) na Cornualha, na ponta sudoeste da Inglaterra, arrendada pelo pai um ano antes de ela nascer, e que servirá de cenário para o romance To the Lighthouse [Ao farol] (1927).
Virginia começa a escrever muito cedo. Com nove anos, redige, periodicamente, para uso da família, um jornalzinho a que dá o título de Hyde Park Gate News. Irá se dedicar a essa atividade, contínua e intensamente, pelo resto da vida. Além de nove romances, escreveu diversos contos e uma quantidade imensa de resenhas e ensaios críticos, espalhados por diversas publicações periódicas.