A filosofia do século XVII, nas suas versões racionalista e empirista, com o corte que fazem entre qualidades primárias e secundárias, não podia ver as cores como problema do pensamento. A natureza pouco misteriosa das cores era perfeitamente analisável no campo da Física ou da Óptica. Já no século XVIII, com Hume, as cores parecem constituir-se numa bizarra exceção às leis associativas que constroem o mundo da experiência. E, em nosso século, Witt genstein chegará à ideia (incompreensível do ponto de vista clássico) de uma lógica das cores.
Nessa história da concepção das cores, a Doutrina de Goethe, (a que o leitor brasileiro tem agora acesso na tradução de Marco Giannotti) ocupa um lugar crucial. Pertencendo ao gênero peculiar da Naturphilosophie (que seria privilegiado pelo Romantismo Alemão), a Doutrina das Cores contrapõe-se a uma perspectiva estritamente físico-matemática, sugerindo que a óptica de Newton é cega para as cores. Goethe pretende fazer obra científica, mas sobretudo, redescobre a cor como fenômeno da experiência vivida – essa experiência cuja ‘verdade’ só emerge de maneira pura com a pintura. Não se trata mais de uma física da luz e não se trata ainda de uma lógica das cores. Talvez pudéssemos dizer – com o risco de algum anacronismo – que, com este grande clássico da literatura e da filosofia, se esboça, pela primeira vez de forma sistemática, uma fenomenologia do visível.
Table of Content
Prefácio
Apresentação
Prefácio
Introdução
Primeira Seção: Cores Fisiológicas
Apêndice: Cores Patológicas
Segunda Seção: Cores Físicas
Terceira Seção: Cores Químicas
Quarta Seção: Perspectiva Geral das Relações Internas
Quinta Seção: Afinidades com Outras Disciplinas
Sexta Seção: Efeito Sensível‑Moral da Cor
Notas da Tradução
Apêndice do tradutor
Notas do Apêndice
Biografias
About the author
Johann Wolfgang Von Goethe nasceu em 28 de agosto de 1749 em Frankfurt, na Alemanha, e faleceu em março de 1832, aos 82 anos, em Weimar. Filho mais velho de um bem-sucedido advogado e de uma aristocrata de Frankfurt, teve uma infância confortável e recursos para uma juventude boêmia.
Inicialmente seus estudos foram ministrados por seu pai, sendo continuados
mais tarde por professores particulares. Aos 16 anos, ingressa na Universidade de Leipzig onde se forma em Direito. Durante este período também estuda desenho e desenvolve interesse pela pintura, além de se encantar pela vida noturna da cidade.
Em 1810, após ser aclamado nos meios intelectuais como poeta e dramaturgo, decide fazer sua primeira incursão à ciência e publica Doutrina das cores, um estudo que confrontava as ideias defendidas por Isaac Newton a respeito da teoria cromática.
Após sua viagem à Itália em 1791, Goethe inicia seus experimentos com prismas e lentes, e se convence de que a luz é algo indivisível e impossível de ser composta por outras cores.
Interessado nas condições necessárias para que a luz se manifestasse, o autor pretende entender como a cor aparece junto a ela, e provar que a identidade da cor varia de acordo com os critérios estabelecidos para a sua compreensão.
O estudo de Goethe sobre as cores tem, entre outros, o mérito de ser já no início do século XIX — uma das primeiras e mais fortes expressões da reação ao pensamento mecanicista, combinando, de maneira saudável, o rigor do método científico e a criatividade do trabalho artístico.
Inspirado numa filosofi a da Natureza que rejeita as formas mais rígidas do cientificismo e baseado na interação entre a manifestação natural e a percepção humana, o livro provoca uma torrente incessante de indagações e surpresas. Com seu estilo refinado que mistura simetricamente o discurso científico e a linguagem poética, Goethe nos leva a entender melhor essa infindável busca pela descrição, segundo um método adequado, do fenômeno cromático.