Um dos campos de estudos mais férteis das últimas décadas é o resgate da história dos africanos e seus descendentes e a valorização da cultura e tradições negras no Brasil. Resultado do ‘II Seminário História Social da Língua Nacional’, realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa em outubro de 2010, este livro discute questões da diáspora africana relacionadas ao processo histórico-social da língua nacional, considerando o tráfico de escravos e as redes do mundo atlântico como travessia de homens, culturas, línguas, modos de comunicação e vida social.
Ao pesquisarmos a escravidão, percebemos que as estratégias de comunicação criadas pelos próprios africanos e descendentes foram tão importantes quanto as formas de imposição da língua senhorial, haja vista a persistência de línguas maternas, o surgimento de línguas gerais, os usos rituais e secretos de códigos próprios. Como explicar que a formação do Estado nacional no Brasil, sustentada na mão de obra escrava e nos privilégios da classe senhorial, foi também a experiência de gestação de um mundo das letras, com grande número de descendentes de escravos, libertos e africanos entre seus agentes, inclusive os mais ilustres?
No Brasil contemporâneo, o esforço de apropriação dos instrumentos de poder, como a língua culta, os códigos legais, a educação formal, é um caminho que afirma vínculos comunitários e atuações políticas e identitárias.
Table of Content
PARA PENSAR A HISTÓRIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS NO BRASIL
Línguas africanas no Brasil: vitalidade e invisibilidade
Margarida Petter
As difusas fronteiras entre línguas crioulas e línguas não crioulas:
o caso da gênese e desenvolvimento da língua nacional no Brasil
Heliana Mello
MUNDO ATLÂNTICO
A língua mina-jeje no Brasil, uma língua negro-africana
documentada em Vila Rica no século XVIII
Yeda Pessoa de Castro
As vozes centro-africanas no Atlântico Sul (1831-c.1850)
Marcos Abreu Leitão de Almeida
Cantigas desaforadas e outras injúrias: o português e o
quimbundo em Luanda (1870-1930)
Andrea Marzano
‘Sempre a subir!’: música e dança kuduro na Angola pós-colonial
Marissa Moorman
SOBRE OS AFRICANOS
Como escrevi O trono da rainha Jinga
Alberto Mussa
Africanos e descendentes em dicionários
Laura do Carmo
Um Rei negro na literatura brasileira: Coelho Neto e a herança
africana
Leonardo Affonso de Miranda Pereira
A voz negra
Sérgio Bittencourt-Sampaio
PRÁTICAS E POLÍTICAS
Práticas e fronteiras: africanos, descendentes e língua nacional
no Rio de Janeiro
Ivana Stolze Lima
A árvore da palavra: falares, cantos e contos da tradição banto no
Brasil
Sônia Queiroz
‘O meu pai contava…’: tradição oral e identidade negra no sul
fluminense
Hebe Mattos, Martha Abreu, Patrícia Brandão Couto
Jongo, espaço de construção de identidade: afinando os pontos
com a escola
Délcio José Bernardo
A língua nagô no terreiro
Ialorixá Mãe Meninazinha d’Oxum
REFERÊNCIAS
Línguas africanas e línguas do tráfico
Margarida Petter
Línguas do grupo banto
Margarida Petter
Tráfico de africanos para o Brasil
Marcos Abreu Leitão de Almeida
Conceitos linguísticos
Heliana Mello
Estudos sobre línguas africanas
Margarida Petter
Bilhete do africano Cyro
Beatriz Gallotti Mamigonian
Vissungos recolhidos em Minas
por Aires da Mata Machado
About the author
Laura do Carmo possui graduação em Letras, é mestre em literatura brasileira com a dissertação A tradição ainda canta: aspectos da poesia da canção caipira, pela UFRJ e doutora em língua portuguesa na UERJ. Participou da equipe do Instituto Antônio Houaiss, tendo coordenado a produção do Dicionário ilustrado Houaiss, publicado em 2010. Em 2002, passou a integrar o Setor Ruiano da Fundação Casa de Rui Barbosa, onde trabalha na edição dos textos de Rui Barbosa. Vem colaborando com o grupo de pesquisa Para a História do Português Brasileiro (PHPB-Rio), editando cartas do arquivo de Rui Barbosa, em parceria com os professores da UFRJ Afrânio Gonçalves Barbosa e Dinah Callou. Com a pesquisadora Ivana Stolze Lima organizou seminários da série História Social da Língua Nacional (em 2007 e 2010). Preparou a edição do roteiro de Herança de ódio, radionovela de Oduvaldo Viana e desenvolveu, juntamente com uma equipe de profissionais da Fundação Casa de Rui Barbosa o Manual de normas editorias da FCRB. Participou ainda da redação dos seguintes dicionários: Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa Caldas Aulete (publicado em 2004) e do dicionário Aulete digital.
Ivana Stolze Lima possui graduação em História pela UFRJ, mestrado em História Social da Cultura pela PUC-Rio e doutorado em História pela UFF. Em 2010, concluiu pós-doutorado no Program of African Studies, Northwestern University. É pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e professora da PUC-Rio. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: representações sobre a língua nacional, mestiçagem, escravidão, africanos, Brasil império, identidade, imprensa e historiografia brasileira. Entre 2011 e 2013 coordenou o Programa de Incentivo à Produção do Conhecimento e entre 2005 e 2010 o Programa de Iniciação Científica da Fundação Casa de Rui Barbosa. Atualmente é professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura da PUC-Rio e credenciada no Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHISTÓRIA).