Debates latino-americanos são, na verdade, dois livros. E ambos são essenciais. Na primeira parte, Maristella Svampa revisita de modo crítico temas fundantes do pensamento crítico latino-americano: o indianismo, o desenvolvimento, a dependência e o populismo. Este mergulho tem uma intenção política que se explicita na segunda parte: refletir sobre os dilemas do presente e, em particular, sobre os governos progressistas. […] O leitor iniciante encontrará aqui não apenas a contextualização necessária ao pensamento social e econômico latino-americano mas também uma introdução aos principais debates desenvolvidos anteriormente por Svampa, em que se destaca sua crítica às forças colonialistas. Evocam-se categorias críticas como ‘extrativismo’ e ‘pós-desenvolvimento’. E categorias horizonte como ‘bens comuns’ e ‘bem viver’. Esse ponto é essencial para o público brasileiro. Como destaca a própria autora, nosso país tem sido particularmente refratário às críticas ao desenvolvimentismo e ao extrativismo. Sintoma desse descompasso, pensadores notáveis como Alberto Acosta, Edgardo Lander, Raúl Zibechi, Silvia Rivera Cusicanqui e a própria Svampa tardam em receber a visibilidade que merecem. Portanto, a publicação deste livro é mais do que uma realização editorial: é sinal de uma expansão da crítica possível sobre o próprio Brasil. Por sua vez, o leitor já iniciado se surpreenderá com a clareza da sistematização de conceitos complexos e com a profundidade das reflexões produzidas durante o encerramento do que a autora descreve como um ciclo progressista (em 2015), completando o arco do pensamento regional, iniciado nos anos 1940. Debates latino-americanos examina contradições dos movimentos populares e de governos eleitos ou impostos, ao mesmo tempo que avança críticas sólidas ao novo arcabouço político-ideológico neoliberal, renovado por sua retórica de responsabilidade ‘socioambiental’.
— Berta Coletivo Latinoamericanista, na orelha
About the author
Maristella Svampa nasceu na província de Río Negro, na Patagônia argentina, em 1961. Pesquisadora anfíbia, socióloga, ativista e escritora, estudou filosofia na Universidad Nacional de Córdoba, com passagens pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne e pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França, onde obteve o doutorado em sociologia. É pesquisadora do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet) da Argentina, com base no Centro de Documentación e Investigación de la Cultura de Izquierdas (Ce Din Ci). Ao longo da carreira, recebeu vários prêmios e reconhecimentos, como a Bolsa Guggenheim, em 2007; o Prêmio Kónex, em 2016; o Prêmio Nacional de Ensaio Sociológico, em 2018, atribuído pela Secretaria de Cultura da Argentina, pelo livro Debates latino-americanos: indianismos, desenvolvimento, dependência e populismo; e o Prêmio Georg Forster, em 2023, concedido pela Fundação Humboldt, da Alemanha. Em 2022, assumiu a Cátedra Simón Bolívar da University of Cambridge, na Inglaterra. Suas pesquisas abordam a crise da sociologia, os movimentos sociais e a ação coletiva, assim como problemáticas relacionadas ao pensamento crítico e à teoria social latino-americana. Tem mais de vinte obras publicadas, entre ensaios, pesquisas e romances. Seus últimos livros são El colapso ecológico ya llegó: una brújula para salir del (mal)desarrollo (2020), em coautoria com Enrique Viale, e La transición energética en Argentina (2022), que co-organizou com Pablo Bertinat. É uma das articuladoras do Pacto Ecossocial e Intercultural do Sul.