Considerado por alguns o criador da crônica social moderna, Paulo Barreto escreveu milhares de textos, publicados ao longo de pouco mais de duas décadas em diversos periódicos. Entre os pseudônimos que usava, um deles se tornou mais conhecido: João do Rio, cuja identidade se confundia com a da cidade que retratou.
Do fim do século XIX até as primeiras décadas do século XX, o Rio de Janeiro passava por uma série de transformações associadas à implantação da modernidade e à consolidação do capitalismo no Brasil. Políticas que visavam ao saneamento e ao embelezamento urbano pretendiam romper com características da cidade colonial, aproximando-a das grandes capitais europeias. Ao mesmo tempo, tentava-se impor novos hábitos e costumes à população, com o objetivo de substituir antigas tradições e manifestações da cultura popular, vistas como marcas de primitivismo e barbárie. Essas mudanças modificaram significativamente aspectos físicos e simbólicos da cidade.
Atento ao cotidiano e aos personagens da metrópole, Barreto foi observador sagaz desse processo excludente e pleno de contradições. Também ele contraditório e multifacetado, o cronista assumiu posturas que oscilavam entre a adesão e a rejeição a esse projeto modernizador.
O fim do maxixe: João do Rio e outros pseudônimos de Paulo Barreto reúne 31 crônicas inéditas em livro, escritas entre 1903 e 1918. Assinados por João do Rio, x ., Joe, José Antonio José e Paulo José, os textos foram selecionados pela historiadora Juliana Bulgarelli e oferecem, em conjunto, uma rica interpretação da dinâmica e das características da vida moderna que se consolidava e de diferentes representações da modernidade.
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Jornalista, cronista, contista e teatrólogo, João Paulo Coelho Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 5 de agosto de 1881, e faleceu na mesma cidade em 23 de junho de 1921.
Ingressou ainda jovem na imprensa, notabilizando-se como o primeiro jornalista brasileiro a ter o senso da reportagem moderna, entre as quais se tornaram célebres ‘As religiões no Rio’ e ‘O momento literário’, ambas reunidas depois em livros. Trabalhou em diversos jornais, tornando-se um dos maiores jornalistas de seu tempo.
Em 1910 foi eleito para ocupar a cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Guimarães Passos.
Juliana Bulgarelli é doutora em história pela Universidade de Paris 3 — Sorbonne Nouvelle, onde desenvolveu pesquisa sobre as representações da modernidade brasileira na obra de Paulo Barreto e seus pseudônimos. É mestre em história pela Universidade de Paris 4 — Sorbonne, também com pesquisa sobre Paulo Barreto.