Pauline Hopkins foi pioneira em várias de suas obras e foi a primeira negra a publicar uma história de mistério nos Estados Unidos. Vênus Johnson é a primeira personagem negra – e mulher – a desempenhar um trabalho de investigação, e somente por isso já merecia estar aqui neste resgate que a coleção se propõe. Mas vai muito além…
Neste livro há uma série de mistérios, investigação e julgamento, e claro, a figura da detetive feminina que tanto buscamos em nosso recorte, mas nem ela, nem os crimes podem ser considerados o epicentro da importância da trama.
Abordando as questões políticas que se agravaram com a Guerra Civil, A filha de Hagar traz uma história familiar com duas linhas relativamente distintas: a da família do senhor e do escravo e entre elas a marcação mais clara em seus discursos.
Vênus sozinha não é a personagem central dessa trama, mas ouso dizer que o universo dela (e não de Jewel, a mocinha) é o real foco de Pauline. Afinal, é essa personagem que pratica as reais ações que definem a coisa toda.
About the author
Pauline nasceu em Portland, no estado do Maine, em 1859. Era filha de Benjamin Northup e Sarah Allen, que se mudaram para Boston quando Pauline era ainda pequena. Seus pais se separaram e sua mãe Sarah se casaria com William Hopkins, e se tornariam casal afroamericano modelo para a emergente classe média de Boston.
Jornalista, atriz, editora, romancista, cantora, sua figura começou a aparecer em críticas em jornais e revistas da época. Em março de 1877, ela participou de sua primeira atuação dramática na peça ‘Pauline Western, the Belle of Saratoga’. Atuou em diversas peças, todas recebendo críticas positivas. Foi apenas a partir de 1900 que ela começou a focar na escrita e na literatura.
Seu primeiro trabalho conhecido e publicado foi a peça Slaves’ Escape; or, The Underground Railroad, depois renomeada e revisada para Peculiar Sam; or, The Underground Railroad, que foi encenada pela primeira vez em 1880. O conto Talma Gordon, publicado em 1900, é tido como a primeira história de mistério afroamericana. Pauline tratava em seus enredos dos diversos desafios do povo negro norte-americano, como o racismo, a violência de raça e a brutalidade generalizada do pós-Guerra de Secessão. Esses temas apareceram em seu primeiro romance, Contending Forces: A Romance Illustrative of Negro Life North and South, publicado em 1900.
Entre 1901 e 1903 ela publicou três livros: Hagar’s Daughter: A Story of Southern Caste Prejudice, Winona: A Tale of Negro Life in the South and Southwest e Of One Blood: Or, The Hidden Self. Algumas vezes, ela utilizava o pseudônimo de Sarah A. Allen. Pauline começou a construir uma reputação e uma fama a partir de 1900 e como resultado, lhe foi oferecido um cargo no corpo diretor da Revista The Colored American. Sua escrita e sua participação na redação ajudou a aumentar o número de assinaturas e a levantar fundos para a revista.
Seu trabalho também começou a ser notado por outros escritores negros da época, como Charles W. Chesnutt, Paul Laurence Dunbar e Sutton E. Griggs. Entre as mulheres, Pauline é considerada uma grande e prolífica escritora, era também uma editora de renome na primeira década do século XX.
De 1905 em diante, Pauline permaneceu ativa e visível na comunidade literária. Publicou um panfleto nessa época, chamado ‘A Primer of Facts Pertaining to the Early Greatness of the African Race and the Possibility of Restoration by Its Descendents’ (Uma cartilha de fatos relativos à grandeza primitiva da raça africana e a possibilidade de restauração por seus descendentes). Esteve presente no centenário William Lloyd Garrison, em Boston, marcando sua proeminência na comunidade ativista-intelectual da cidade. Em 1916, Pauline e o editor da revista The Colored American, Walter Wallace, começaram uma nova revista, chamada New Era. As duas únicas edições incluíam um conto em duas partes de Pauline. Acredita-se que ela tenha produzido, editado e participado de muitos eventos, sendo ativa no meio intelectual da cidade.
Mesmo com todo o racismo da sociedade norte-americana e os preconceitos sociais recorrentes, Pauline foi ouvida e ajudou a elevar a voz da comunidade negra, fazendo-os conhecer sua própria história.