O mito de Erisícton nos fala de um rei que se devorou porque nada satisfaria sua fome, punição divina por ultrajar a natureza. A partir dessa metáfora potente, Anselm Jappe analisa o que chama de 'pulsão de morte do capitalismo’: uma explosão de violência extrema gerada pela perda de sentido e pela negação dos limites, características de uma sociedade regida pela mercantilização. Para tanto, Jappe propõe retomar o diálogo com a tradição psicanalítica e desistir da ideia, forjada pela razão moderna, de que o sujeito é um indivíduo livre e autônomo; ao contrário, é fruto da internalização das restrições impostas pelo capitalismo e portador de uma combinação letal entre narcisismo e fetichismo da mercadoria. Neste contexto, 'desenredar os infinitos fios da meada que leva os indivíduos a colaborar — em diversos graus — com o sistema que os oprime’ seria a palavra de ordem para uma verdadeira 'mutação antropológica’, capaz de reinventar a felicidade, livre das categorias capitalistas.
O autorze
Anselm Jappe nasceu em Bonn, na Alemanha, em 1962. É professor da Academia de Belas Artes de Sassari e professor convidado do Collège International de Philosophie de Paris. É um dos principais teóricos da crítica do valor, autor de, entre outros, As aventuras da mercadoria: para uma nova crítica do valor (Antígona, 2006) e Crédito à morte: a decomposição do capitalismo e suas críticas (Hedra, 2013), e coautor de Capitalismo em quarentena: notas sobre a crise global (Elefante, 2020).