Com anotações detalhadas e tradução rigorosa de Samuel Thimounier, além de uma rica introdução de Cristiano Novaes de Rezende, esta edição é constituída por vários textos que, criteriosamente selecionados, criam uma experiência única de leitura e inauguram um novo paradigma editorial, revolucionário para compreensão de todos eles. O primeiro é o Tratado da emenda do intelecto, obra que está entre as primeiras de Espinosa e que dá nome ao livro; o segundo é uma parte do Medicina da mente, obra escrita por Ehrenfried W. von Tschirnhaus; o terceiro é a correspondência completa entre Espinosa, Tschirnhaus e Georg Hermann Schuller; e o último é um conjunto extra de cartas conexas.
O Tratado da emenda do intelecto é um dos textos mais discutidos de toda a produção de Espinosa. Além de dar luz a textos caros à Filosofia, esta edição primorosa também busca responder por que e como esse opúsculo, iniciado por Espinosa em sua juventude e mantido inacabado até sua morte, foi tão comentado, sendo que sua obra magna, a Ética, plenamente concluída, parece dar conta de todas as questões lá tratadas.
Este volume tem uma grande importância pelo ineditismo do compilado dos textos apresentados que, acompanhados por considerações hermenêuticas, filológicas e textual-comparativas, aprofundam aspectos importantes do debate e da formulação do pensamento espinosano.
Trata-se, pois, de uma amostra, de altíssimo nível, em língua portuguesa e produzida a partir de uma já consolidada tradição brasileira de estudos espinosanos, de como o trabalho de tradução e edição se configura, em si mesmo, como de autêntico alcance filosófico, que se afirma de maneira original e fecunda no contexto das discussões internacionais.
O autorze
Bento de Espinosa nasceu em 1632, em Amsterdã, filho de judeus ibéricos que, fugindo da Inquisição, haviam se instalado na cidade. Aos 23 anos, foi excomungado e teve de abandonar a comunidade judaica em que crescera. A partir daí, vive em várias cidades holandesas, trava contatos com grandes expoentes da vida intelectual da época e produz uma das mais importantes obras de toda a história da filosofia. Em vida, Espinosa publicou dois textos: os Princípios da filosofia cartesiana e Pensamentos metafísicos, em 1663, e o Tratado teológico-político, aparecido anonimamente em 1670. No ano de sua morte, 1677, amigos publicaram em latim e holandês as suas Obras póstumas, que incluíam o Tratado da emenda do intelecto, o Compêndio de gramática da língua hebraica, o Tratado político, a maior parte de sua correspondência e, principalmente, a Ética demonstrada segundo a ordem geométrica, sua obra mais importante. Em meados do século XIX, descobriram-se cópias de um trabalho inédito, o Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar.