Em 1993, dois anos após receber o American Books Awards, a educadora, crítica literária e aclamada pensadora do feminismo negro Gloria Jean Watkins (1952-2001), internacionalmente reconhecida pelo pseudônimo bell hooks, decidiu colocar no papel as experiências e reflexões inspiradas por um grupo de apoio de mulheres negras, as 'Irmãs do Inhame’. O nome é carregado de significado. Inspirada em um trecho da obra Os comedores de sal, da escritora e ativista Toni Cade Bambara (1939-1995) – a quem presta homenagem na epígrafe –, o inhame é símbolo da 'sustentação da vida’, da nutrição e do cuidado, e também das 'conexões diaspóricas’ para a comunidade negra. Assumidamente pensado como um livro de autoajuda direcionado para (mas não apenas) as mulheres negras e suas relações com o corpo, as relações afetivas e familiares, o trabalho, a educação, a vida comunitária, a busca pela paz interior, Irmãs do inhame vai muito além, e traz a essência de bell hooks: uma escrita amorosa e envolvente, que não nega a dimensão política do cotidiano, e combina um conhecimento profundo da literatura e da cultura negras com reflexões que passam pela filosofia, pela crítica cultural e pelo budismo, em especial a obra do monge vietnamita Thich Nhat Hanh (1926-2022). Para hooks, a processo de cura passa necessariamente pelo olhar compreensivo entre as 'irmãs’, sem jamais esquecer do 'universo mais amplo da luta coletiva’.
O autorze
Nascida no dia 25 de setembro de 1952 em Hopkinsville, uma pequena cidade localizada no estado do Kentucky, Estados Unidos, Gloria Jean Watkins, conhecida mundialmente pelo pseudônimo bell hooks – em homenagem à sua bisavó, Bell Blair Hooks, e como uma forma de exaltar a ancestralidade – foi uma educadora, escritora, crítica cultural e ativista que denunciou as desigualdades de raça, gênero e classe, além de trazer em seus escritos questões como amor e espiritualidade. Autora de diversos artigos e livros, dentre os quais Ensinando a transgredir – Educação como prática da liberdade, publicado pela WMF Martins Fontes, hooks tornou-se uma das vozes mais relevantes em temas como pedagogia crítica, feminismo negro, práticas antirracistas, emancipação intelectual e justiça social. Dentre as influências assumidas pela autora, figura o nome de Paulo Freire (1921-1997), com quem ela estabeleceu uma rica troca intelectual: 'Quando descobri a obra do pensador brasileiro Paulo Freire, meu primeiro contato com a pedagogia crítica, encontrei nele meu mentor e um guia’, escreveu hooks. Mas essa admiração veio acompanhada de reparos contundentes à obra freireana, especialmente em relação à ausência da perspectiva feminista em sua teoria. Dessa forma, com essa construção dialógica e afetiva entre dois gigantes do pensamento, quem ganhou foi a ideia da educação que emancipa e liberta. Após concluir seus estudos básicos em escolas públicas segregadas e, em seguida, em uma instituição de ensino integrada, bell hooks graduou-se em Letras pela Universidade de Stanford (1973), com mestrado pela Universidade de Wiscosin (1976) e doutorado pela Universidade da Califórnia (1983), com uma tese sobre a escritora vencedora do Nobel de Literatura (1993) Toni Morrison (1931-2019), outra de suas inspirações. Lecionou na Universidade do Sul da Califórnia, na Universidade da Califórnia, na Universidade Yale, na Oberlin College e no Berea College. Entre as várias láureas e homenagens que bell hooks recebeu, destaca-se o American Books Awards de 1991. A autora de Irmãs do inhame: mulheres negras e autorrecuperação faleceu em Berea, Kentucky, no dia 15 de dezembro de 2021.