Imagine a cena:
É outubro, outono na bela Londres. As árvores exibe um belíssimo matiz de cores, antes que suas folhas caiam completamente, anunciando a iminência do inverno.
A pequena sala está iluminada pelos raios solares, que entram pela janela à frente da escrivaninha. O jovem pastor que observava o horizonte em seus tons alaranjados e avermelhados do crepúsculo, volta sua atenção ao movimento das ruas: do outro lado da calçada um sapateiro esmera-se em desenvolver seu mais novo modelo de calçado. Alguns casais passeiam de mãos dadas e as crianças que brincam alegremente param, vez ou outra, para tomar água nos bebedouros de rua. De repente, uma senhora demonstrando desespero dirige-se rapidamente aos telégrafos para enviar uma mensagem urgente, enquanto cavalos puxam uma carroça que traz a madeira cortada pelo hábil lenhador que a dirige.
Esse cenário enche a mente de Spurgeon que, subitamente, toma sua pena, a imerge no tinteiro e começa a registrar aquilo que o Espírito Santo o inspira a escrever. São as primeiras palavras de um dos devocionais mais amados da história da Igreja…
O texto que você tem em mãos é produto das experiências deste grande homem de Deus, que viveu no século 19. Sua caminhada com o Senhor foi marcada pelo grande sucesso ministerial, e também pela luta contra doenças graves desde a juventude, bem como contra a forte oposição que enfrentou dentro da igreja e também no mundo. Todos esses fatores atestam a autoridade desses escritos como inspiradores.
Ao decidirmos fazer uma versão desta obra clássica da literatura cristã em português tivemos que tomar algumas decisões para que a mensagem tivesse o mesmo efeito em nosso leitor, do que o que tem exercido sobre os leitores de língua inglesa por mais de cem anos. Assim, escolhermos usar linguagem mais moderna, porém buscando manter todas as características históricas do texto original. Você lerá sobre cavalos, colchões de pena, iluminação por velas, lampiões e candeeiros, e estações do ano em épocas diferentes das nossas.
Outra decisão importante foi a de incluirmos notas explicativas no corpo do texto para facilitar a compreensão contextual cada vez que Spurgeon fez referência a livros cristãos e a pessoas que ajudaram a construir a história eclesiástica. Você verá como é interessantíssimo que, apesar de escritas há tanto tempo, essas meditações ainda continuam tão verdadeiras e contemporâneas para o cristão do século 21.
A forma vívida e, muitas vezes poética, como o autor fala sobre pecador, redenção, vida cristã e a segunda vinda de Jesus provoca contrição, um senso profundo de adoração e desejo de maior consagração.
Em cada uma das 366 meditações deste volume, você encontrará palavras de encorajamento, exortação, consolo e esperança. Invista os primeiros momentos do seu dia se inspirando para dedicar-se mais a Deus – lendo a meditação da manhã – e, antes de render-se ao cansaço de suas atividades diárias, separe um tempo para ouvir, uma vez mais, o que o Senhor ainda tem a dizer ao seu coração na leitura da noite.
Veja o que lhe diz Spurgeon na meditação noturna de 1º de abril:
'Aqui neste quarto silencioso… falo com você da melhor forma que posso, por meio do papel e da tinta, e do mais profundo de minha alma; como servo de Deus entrego-lhe este alerta: 'É tempo de buscar ao SENHOR”.
Inspire-se!
O autorze
Charles H. Spurgeon, conhecido como 'príncipe dos pregadores’, foi um dos maiores evangelistas do século 19. Após mais de 100 anos de sua morte, seu exemplo de fé e prática do evangelho ainda continua inspirando milhares de cristãos ao redor do mundo.
Spurgeon era precocemente notável, leu muitos livros, entre eles O Peregrino (Publicações Pão Diário, 2018), de John Bunyan, obra que marcou profundamente sua vida. Ainda na infância ouviu uma palavra que foi confirmada, posteriormente, durante seus anos de ministério: 'Este menino pregará o evangelho a grandes multidões’.
Spurgeon buscava um relacionamento genuíno com Cristo. Por isso, dos 14 aos 16 anos, passou por uma crise a respeito de sua salvação. A convicção de pecado perturbava sua alma. Após sua conversão, foi batizado e começou a distribuir panfletos e a ensinar crianças na Escola Dominical em Newmarket.
Spurgeon causou muita agitação em Londres. Sua pregação brotou como um manancial no deserto espiritual em que vivia a Inglaterra e outros lugares da Europa naquela época. Em pouco tempo Spurgeon se tornou uma figura célebre ao redor do mundo e foi reconhecido como uma das mentes mais brilhantes de sua época.
A oração também foi uma prática contínua ao longo de sua vida. Spurgeon disse, certa vez, à sua congregação: 'Que Deus me ajude se deixarem de orar por mim! Que me avisem, pois naquele dia terei de parar de pregar. Deixem-me saber quando se propuserem a cessar suas orações a meu favor, pois então exclamarei: 'Deus, dá-me o túmulo neste dia, e durma eu no pó.”
Aos 50 anos de idade, Spurgeon pastoreava uma igreja de milhares de pessoas, respondia uma média de 500 cartas semanalmente, lia seis livros teológicos por semana, e isso, dizia ele, representava apenas metade de suas tarefas. Dentre seus dons estava a capacidade de escrever. Comunicava sua mensagem escrita tão bem quanto a pregava.
Foi casado com Susanah Thompson, seu amor e inspiração, e teve dois filhos, os gêmeos Thomas e Charles.
Suas últimas palavras, no leito de morte, foram dirigidas à sua esposa: 'Ó, querida, tenho desfrutado de um tempo muito glorioso com meu Senhor!’ Ela, então, exclamou: 'Ó, bendito Senhor Jesus, eu te agradeço pelo tesouro que me emprestaste no decurso desses anos’.
Muitos cortejos e cultos foram organizados em Londres para o funeral. Em seu caixão, uma Bíblia estava aberta no texto de sua conversão: 'Que todo o mundo se volte para mim para ser salvo!’ (Isaías 45.22). Em seu simples túmulo, estão gravadas as palavras: 'Aqui jaz o corpo de CHARLES HADDON SPURGEON, esperando o aparecimento do seu Senhor e Salvador JESUS CRISTO.’