15 de novembro de 1889, data da proclamação da República brasileira, foi também o último dia da família real no Brasil. Na madrugada do dia 16 para o dia 17, uma pequena comitiva deixou o Paço Imperial, no Rio de Janeiro, e embarcou rumo ao exílio na Europa. A bordo do navio Alagoas, além da família imperial, viajaram criados, o médico do imperador e amigos próximos da família. Entre eles, o casal Manuel Vieira Tosta e Maria José Velho de Avelar, barão e baronesa de Muritiba — uma das amigas mais íntimas da princesa Isabel.
A princesa, a baronesa e o barão de Muritiba escreveram seus próprios relatos sobre a queda da Monarquia, a proclamação da República e o exílio da família imperial. Esses relatos — dois deles inéditos — estão sendo publicados pela primeira vez em conjunto. Isabel começou a escrever no dia 22 de novembro de 1889, ainda no calor dos acontecimentos, a bordo do navio que os levava para Portugal. 'Escrevo tudo isto porque é raro relatar-se exatamente o que se ouve’, afirmava. Talvez encorajada pela amiga, a baronesa também elaborou, durante a viagem para a Europa, sua própria exposição dos fatos que vivenciou. O barão, por sua vez, escreveu em 1913, quando os três viviam em Cannes. Os três relatos narram os acontecimentos vividos por seus autores entre 14 de novembro e 7 de dezembro de 1889, quando chegaram a Lisboa.
Estes documentos foram encontrados por acaso em meio a cartas, bilhetes, fascículos de revistas avulsas, livros, folhetos de orações fúnebres, diplomas, convites de casamento e certidões doados pela família Vieira Tosta ao Arquivo Nacional. Mais que narrativas pessoais escritas por importantes figuras da Monarquia brasileira, são uma tentativa de dar inteligibilidade ao evento que afetou suas vidas e a história do país.
Mais de um século depois, esses relatos são também uma oportunidade de reflexão acerca das versões construídas por republicanos e monarquistas sobre a proclamação da República.
O autorze
A princesa Isabel (1846-921) era filha do imperador d. Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina. Casou-se em 1864 com Gastão de Orléans, neto do rei da França, Luís Filipe I. Herdeira do trono brasileiro, foi exilada com os demais membros da família imperial em 1889, com a proclamação da República.
Maria José Velho de Avelar (1851-1932) era descendente de família de damas de companhia da família real portuguesa e cresceu como uma das melhores amigas da princesa isabel. Casou-se com Manuel Vieira Tosta em 1869, recebendo o título de baronesa de Muritiba em 1888.
Manuel Vieira Tosta Filho (1839-1924) era filho de Manuel Vieira Tosta, visconde e marquês de Muritiba, e de Isabel Pereira de Oliveira. Formou-se em direito pela Faculdade de São Paulo em 1860. Casou-se com Maria José Velho de Avelar em 1869 e recebeu o título de barão de Muritiba em 1888.
Keila Grinberg é professora titular do Departamento de História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. É pesquisadora do CNPq e Cientista do Nosso Estado da Faperj. Foi professora e pesquisadora visitante na University of Michigan, na Northwestern University, na University of Chicago e na New York University. Entre outros livros e artigos, é autora de Liberata, a lei da ambiguidade: as ações de liberdade da Corte de Apelação do Rio de Janeiro no século XIX (1994) e O fiador dos brasileiros: cidadania, escravidão e direito civil no tempo de Antonio P. Rebouças (2002), e organizadora da coleção 'Brasil Imperial’, com Ricardo Salles.
Mariana Muaze é doutora em história pela Universidade Federal Fluminense, com pós-doutorado na University of Michigan, pesquisadora do CNPq e professora associada do Departamento de História da Unirio. Ganhou o prêmio Arquivo Nacional e menção honrosa no prêmio Jorge Zahar com o livro Memórias da viscondessa: família e poder no Brasil Império (2008). É autora de diversos artigos acadêmicos na área.