’Crime’ é o sétimo volume das 'Obras Completas’ de Luiz Gama. Os textos aqui recolhidos foram divididos em oito partes. A primeira contém três artigos acerca da importância da identificação dos limites de uma jurisdição, discussão teórica cuja implicação é a defesa concreta de escravizados. A seguir, em 'A injúria’, Gama debate, em três textos, questões de natureza jurídico-criminal e defende a imprensa como fórum de salvaguarda de direitos — tema que retorna na histórica defesa a seu cliente Justiniano Silva em 'O abuso da liberdade de opinião e de imprensa’, da terceira parte. A abusiva batida policial ao estúdio de fotografia de Victor Telles, seguida de sua prisão e de mais cinco artistas, é o assunto de 'A falsificação de moeda’. Em 'O roubo’, quinta parte, o leitor acompanha a exaustiva investigação empreendida por Luiz Gama para a defesa do tesoureiro da alfândega de Santos, acusado do roubo milionário de 185 mil contos de réis do cofre da instituição. Nesta parte, encontra-se 'O misterioso roubo da alfândega de Santos’, o mais longo texto já escrito por Gama, em que se destaca não apenas seu já conhecido talento no direito, mas sobretudo sua personalidade detetivesca, encarnada no gosto sherloquiano pelo enigma a desvendar. 'O homicídio’ contém seis textos em que Gama discute na imprensa casos que tratavam do crime de homicídio ou tentativa de homicídio. Em 'Ladrão que rouba ladrão’, Gama trata da demanda de liberdade de uma escravizada, mediante o pagamento de alta quantia. Finalmente, na oitava parte, o leitor encontra cartas de Gama escritas nesse período.
O autorze
Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu livre em Salvador da Bahia no dia 21 de junho de 1830 e morreu na cidade de São Paulo, como herói da liberdade, em 24 de agosto de 1882. Filho de Luiza Mahin, africana livre, e de um fidalgo baiano cujo nome nunca revelou, Gama foi escravizado pelo próprio pai, na ausência da mãe, e vendido para o sul do país no dia 10 de novembro de 1840. Dos dez aos dezoito anos de idade, Gama viveu escravizado em São Paulo e, após conseguir provas de sua liberdade, fugiu do cativeiro e assentou praça como soldado (1848). Depois de seis anos de serviço militar (1854), Gama tornou-se escrivão de polícia e, em 1859, publicou suas 'Primeiras trovas burlescas’, livro de poesias escrito sob o pseudônimo Getulino, que marcaria o seu ingresso na história da literatura brasileira. Desde o período em que era funcionário público, Gama redigiu, fundou e contribuiu com veículos de imprensa, tornando-se um dos principais jornalistas de seu tempo. Mas foi como advogado, posição que conquistou em dezembro de 1869, que escreveu a sua obra magna, a luta contra a escravidão por dentro do direito, que resultou no feito assombroso — sem precedentes no abolicionismo mundial — de conferir a liberdade para aproximadamente 750 pessoas através das lutas nos tribunais.