Lançado em 1918, Urupês foi a estreia de Monteiro Lobato como autor e já trouxe toda a sua modernidade, revolucionando a escrita na forma e no conteúdo. São 13 contos e um artigo que revelam um Brasil rural abandonado à própria sorte. No texto que dá nome ao livro, aparece o icônico Jeca Tatu, personificação do caipira ignorante, transformado em símbolo do atraso social. As histórias são construídas com as falas dos caboclos. Mostram a insistência do escritor em criar atalhos para despertar o prazer da leitura em um povo até então apartado dos livros. ” Vibrante, expressivo nas comparações vegetais, independente, cria neologismos, inventa construções inéditas, e para ideias novas aplica termos novos. Pode-se dizer que ele sacode a velha árvore da língua e, ao agitar, da fronte caem os frutos secos, vigorizam-se os novos e repontam outros. ”
O autorze
Monteiro Lobato (1882-1948) foi um homem multifacetado. Além de fundador da literatura infantil brasileira com o Sítio do Picapau Amarelo, ele teve um papel crucial como editor e empresário na construção da indústria editorial no Brasil. Também foi um tradutor talentoso, trazendo obras de autores renomados como Lewis Carroll, Ernest Hemingway e Mark Twain para o público brasileiro. Sua trajetória incluiu diversas profissões, como jornalista, adido comercial, fazendeiro, investidor e crítico de arte. Apesar de ter abandonado o sonho de ser artista plástico, ele deixou uma coleção de desenhos e aquarelas que refletem sua origem em Taubaté, São Paulo, e sua busca pela modernidade no Brasil. Sua obra literária destacou-se com o lançamento de Urupês em 1918, que trouxe à tona questões sobre o atraso do campo brasileiro. O autor adotou a fala caipira em suas narrativas, distanciando-se do linguajar dos romances realistas urbanos do Rio de Janeiro. Em suas histórias, ele abordou temas como a decadência da economia cafeeira e a herança escravista. No entanto, algumas de suas ideias eugenistas resultaram em expressões racistas em suas histórias infantis, o que gerou polêmicas. Apesar desses aspectos controversos, Lobato foi reconhecido por sua habilidade de pintar com palavras e criar uma escrita elegante, deixando um legado literário importante.