Oitentáculos reúne um conjunto de poemas que reinventam Nei Lopes, um dos nomes mais importantes da literatura e do pensamento brasileiros contemporâneos.
Em Oitentáculos, Nei Lopes reconstrói o passado – o próprio e o do Brasil – e se lança na direção do além. São 69 poemas, a maioria inéditos, que superam as pequenezas que fazem da vida terrena um martírio doloroso e sufocado; e reverenciam, com humildade suburbana, os mistérios que alicerçam a esperança e a alegria.
Poemas recentes se misturam a outros, escritos entre as décadas de 1960 e 1980, 'salvos de naufrágios no mar da Juventude’. Juntos, os textos apresentam os principais temas da lira de Nei Lopes: a ancestralidade afro-indígena, caribenha e afro-americana, o canto da diáspora negra e a cosmologia dos orixás; a esperteza da lábia, os jogos de palavras e o ritmo sempre bem cadenciado; as lembranças de infância, sua formação acadêmica e de rua, as brincadeiras e os aprendizados da mocidade no bairro de Irajá, no Rio de Janeiro; e, além de tudo, o compromisso reafirmado em seus versos com 'a Poesia, a Democracia e o Direito’.
Nei Lopes convida o público a se aproximar de sua existência extraordinária. Uma existência que atravessa os tempos, antenada com o que há de mais sofisticado nas histórias e nos costumes dos povos brasileiros, mesmo solapados por séculos de exclusão e perseguição. Se em Oitentáculos essa sofisticação se mostra inteira, muito se deve à capacidade do poeta de costurar o ontem no agora. Como disse certa vez Muniz Sodré, 'Nei articula-se em poesia e em vida como um aliciador de tradição’, pois esta seleta de poemas é, também, uma releitura do que se entende por erudição. A poesia de Nei Lopes emerge da cultura brasileira como um azo perfeito para desfilar sua elegância e, assim, firmar a certeza de que seu nome nunca será esquecido.
'Nei articula-se em poesia e em vida como um aliciador de tradição’ – Muniz Sodré
O autorze
Nei Lopes (Rio de Janeiro/RJ, 1942) é bacharel em direito e ciências sociais, e doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi compositor da agremiação Acadêmicos do Salgueiro e dirigente da Unidos de Vila Isabel. Intérprete e autor de sambas, como 'Senhora Liberdade’, em parceria com Wilson Moreira, Nei Lopes gravou álbuns que marcaram a história da música popular, como A arte negra de Wilson Moreira e Nei Lopes (1980) e Samba de fundamento (2012). Desde a década de 1970, vem incursionando também por outros caminhos musicais, em parcerias consagradas com Guinga, Ivan Lins, João Bosco, Moacir Santos, entre outros. Poeta e ficcionista, sua obra é fortemente lastreada na cultura afro-brasileira, com destaque para o poemário Poétnica (2014) e o romance Rio Negro, 50 (2015). Aclamado como um dos grandes pensadores brasileiros vivos, Nei Lopes é autor, o lado de Luiz Antonio Simas, de Dicionário da história social do samba (2015) e de Filosofias africanas (2020), entre outros clássicos do pensamento negro, como Bantos, malês e identidade negra (2008), que somam mais de vinte títulos.