As chamadas 'cartas de João’ nos colocam em contato com um momento crítico das comunidades cuja trajetória havia feito brotar o Evangelho segundo João. Esse escrito estava sendo a inspiração para o testemunho que elas eram desafiadas a dar em meio a situações muito desafiadoras diante dos poderes do mundo, num caminho radical e diferente daqueles trilhados por outros grupos seguidores de Jesus. Mas agora novos problemas apareciam, no interior dessas comunidades 'joaninas’, que estavam levando à ruptura dos laços mais básicos da fraternidade e comprometendo a própria sobrevivência delas. As cartas são escritas justamente por causa desta situação: quem as escreveu se apresenta com a autoridade de quem está ligado às memórias iniciais do caminho dessas comunidades, alerta contra os perigos que ele identifica num entendimento a respeito de Jesus e da vida de fé que ele considera equivocado. Suas palavras duras contra os que não aderem a seu pensamento são acompanhadas de outras, densas e profundas, sobre a radicalidade do amor: do amor que Deus é e que precisa ser a inspiração de todo agir na comunidade. Não perder de vista o mandamento antigo e sempre novo é condição para que ele tenha razão de existir e apontar a possibilidade de outros caminhos para a vida das pessoas.
O autorze
PEDRO LIMA VASCONCELLOS. Nascido em Barra do Piraí, graduou-se em Filosofia (Unifai, 1992) e Teologia (Faculdade de Teologia N. Sra. da Assunção, São Paulo, 1988), obteve o mestrado em Ciências da Religião, com ênfase em Bíblia (UMESP, 1994), doutorado em Ciências Sociais/Antropologia (PUC-SP, 2004) e livre-docência em Ciências da Religião (PUC-SP, 2009). É professor do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências da Religião da PUC-SP, onde desenvolvo pesquisa e docência na área dos Textos Sagrados das religiões; atua também no curso de Teologia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL). Publicou, entre outros, Como ler a Carta aos Hebreus (Paulus, 2008, 2ª ed.), O código da Vinci e o cristianismo dos primeiros séculos (Paulinas, 2006), Fundamentalismos: matrizes, presenças e inquietações (Paulinas, 2008) e Do Belo Monte das promessas à Canudos destruída: o drama bíblico da Jerusalém do sertão (Catavento, 2010).