Escritora alemã que combateu o nazismo cria trama de suspense ambientada na Rússia pré revolução bolchevique
Rússia, início do século XX: Yegor Rasimkara, governador de São Petersburgo, está passando o verão no campo com a mulher e seus três filhos adultos. Poderiam ser dias maravilhosos, não fosse a chegada de uma carta com uma ameaça. Temendo a agitação estudantil, o governador mandou fechar a universidade e agora sua vida está em perigo. A esposa sugere que ele contrate um jovem para protegê-lo. Ela não imagina que o brilhante Liu, que logo seduziu toda a família, sobretudo as duas filhas do casal, está planejando uma tentativa de assassinato do marido… Nas cartas dos membros da família e do jovem revolucionário, as diferentes perspectivas se desdobram em um verão que inevitavelmente chegará ao fim. Com um toque leve e magistral, Ricarda Huch captura a atmosfera nervosa da Rússia pré-revolucionária e, ao mesmo tempo, desenha o perfil de uma sociedade que não quer admitir que seu tempo acabou e os efeitos do extremismo político sobre as pessoas.
O autorze
Ricarda Huch nasceu em uma família da alta burguesia em Braunschweig, na Alemanha central. Aos 22 anos, mudou-se para a Suíça, para estudar. Ainda cursava a Universidade de Zurique quando publicou uma peça de teatro e um volume de poemas, ambos com pseudônimo masculino. Em 1893, usando o próprio nome, alcançou sucesso com seu primeiro romance, Erinnerungen von Ludolf Ursleu dem Jüngeren (Memórias de Ludolf Ursleu, o jovem), a história do declínio de uma família. Dez anos antes, Huch havia passado por um arrebatamento amoroso semelhante ao da heroína do livro, quando se apaixonou por seu cunhado (e primo), Richard Huch, com quem viveu um romance clandestino. Em 1905, depois de um casamento e com uma filha, Huch retomou o relacionamento.
Huch escreveu poemas, contos, peças de teatro e obras teóricas de história e filosofia – entre elas dois livros sobre o Romantismo e estudos sobre a Guerra dos Trinta Anos, Martinho Lutero e Mikhail Bakunin, além de uma alentada história da Alemanha. Outro de seus romances mais conhecidos, Der Fall Deruga (O caso Deruga), saiu em 1917. Com a chegada de Adolf Hitler ao poder, a escritora tornou-se uma ativista contra o nazismo. Em 1933, quando Alfred Döblin, Franz Werfel, Jakob Wassermann e todos os outros escritores judeus foram expulsos da Academia de Artes da Prússia, Huch renunciou a seu assento com uma carta veemente ao presidente da agremiação, criticando o governo. No ano seguinte, em um de seus volumes sobre a história da Alemanha, destacou a perseguição aos judeus no país, em evidente crítica ao regime em vigor. A escritora recebeu a recomendação oficial de deixar o país e se recusou a cumpri-la.
Terminada a guerra e deposto o Terceiro Reich, ela foi eleita em 1947 presidente honorária do primeiro congresso de escritores de língua alemã, que reuniu em Berlim escritores das Alemanhas Oriental e Ocidental. Huch morreu em 1947, aos 83 anos, de consequências de uma pneumonia, deixando inacabado um livro sobre a resistência alemã ao nazismo.