Dias exemplares, reunião de dezenas de textos curtos que formam uma espécie de autobiografia livre e comentada, é a versão, em prosa, da reunião de poemas Folhas de relva, a obra-prima de Walt Whitman (1819-1892), tida como o marco fundador da literatura moderna norte-americana.
Numa espécie de diário íntimo, um dos maiores – senão o maior – poeta norte-americano inicia Dias exemplares contando a história de sua família e o início de sua carreira, como linotipista e jornalista, dando ao leitor pistas de sua formação profissional e cultural, suas leituras de predileção e artes que o inspiraram. Em seguida, Whitman retrata a sua experiência durante a Guerra de Secessão. O retrato humano e gentil dos soldados feridos e mesmo prestes a morrer é um dos pontos altos de Dias exemplares e deriva de um acontecimento real na vida de Whitman: ao deparar com uma lista sumária de mortos em batalha, o poeta ficou em dúvida se seu irmão estava incluído. Foi para Washington, onde descobriu que o irmão estava vivo e dedicou-se a trabalhar voluntariamente como enfermeiro dos soldados feridos. Os relatos são vivos e comoventes, e seu poder de observação e sua escrita brilhante fornecem um testemunho único dos sofrimentos de uma guerra e do cotidiano da capital norte-americana durante a Guerra de Secessão e seu desfecho.
No mais, é a poderosa capacidade de deslumbramento que se sobressai em Dias exemplares, seja diante das cidades que Whitman visita em todas as latitudes dos Estados Unidos, seja, principalmente, frente à natureza que fascina o poeta em suas deambulações, muitas vezes com fim terapêutico.
A versão digital do livro foi baseada no projeto gráfico da edição impressa (já esgotada) da CARAMBAIA, de autoria de Thiago Lacaz. A capa e as páginas internas são ilustradas com silhuetas de folhas, que Lacaz colheu, como Whitman costumava fazer, para depois prensá-las e secá-las.
O autorze
Walter Whitman (1819-1892), que adotou o apelido Walt em sua assinatura literária, nasceu em Long Island, estado de Nova York, numa família de agricultores com pouca educação formal. Era o segundo de nove filhos. Quando tinha 4 anos, a família se mudou para o Brooklyn. Whitman começou a trabalhar aos 12 e foi, ao longo da vida, linotipista, jornalista, funcionário público, ativista político e professor, além de enfermeiro voluntário.
Como morador de Nova York na juventude, desenvolveu o gosto por música e teatro, e começou a experimentar um novo tipo de poesia, que lhe valeria no futuro o título de 'pai do verso livre’, embora não tenha sido o inventor desse formato. Em 1855, às próprias expensas, publicou a primeira edição de Folhas da relva, que teria outras oito edições durante a vida do poeta, cada uma revista e acrescida de novos poemas. O primeiro volume não levava seu nome, mas seu retrato, e chamou a atenção de leitores ilustres como o filósofo Ralph Waldo Emerson.
Em 1873, Whitman sofreu um derrame que o deixou temporariamente paralisado do lado esquerdo. Em parte recuperado, foi morar com um irmão em Camden, Nova Jersey, onde viria a morrer. Sua fama como poeta se encontrava estabelecida, a ponto de ser publicado em 1888 um volume de suas obras completas. Entretanto, o espírito antirreligioso e as passagens de sua obra que abordam livremente a sexualidade lhe custaram mais de um emprego. Whitman morreu como um poeta malvestido e rebelde, mas porta-voz de uma nação jovem e orgulhosa.