’A modernidade é em Baudelaire uma conquista’, eis aqui a definição de Benjamin. Já no primeiro poema de As flores do mal, Baudelaire convoca o leitor à ruptura da apatia. Benjamin aponta o método da aventura, a captura do presente, a intenção do poeta de revidar os atordoantes choques na grande cidade. Para não se tornar receptor inanimado ou ator automatizado, Baudelaire troca o gabinete pelas ruas, a duras penas, físicas e espirituais, e transita entre duas instâncias, flânerie e esgrima. Ao levar a vivência aos âmbitos do coletivo e do voluntário, imiscui-se no hiato da distribuição entre consciente e inconsciente. Conjura os perigos da absorção pela profundeza obscura ou da reflexão pela superfície ofuscante. Antes de o estímulo se queimar como resposta imediata, a vivência, ou se perder como memória de difícil acesso, insere poemas, contragolpes, no espaço intervalar. O modus fica em verso: 'tropeçando em palavras como na calçada’. É total exposição ao presente, com mente e corpo alertas, e plena compreensão de não se tratar de processo natural: 'É essa a natureza da vivência a que Baudelaire atribuiu a importância de uma experiência. Fixou o preço pelo qual se pode adquirir a sensação da modernidade: a destruição da aura na vivência do choque’.
O autorze
Walter Benjamin
É um dos mais importantes pensadores do século XX. Filósofo, ensaísta, crítico literário e tradutor, abandonou sua carreira acadêmica após a rejeição de sua tese de livre-docência, intitulada Origem do drama trágico alemão, pela Universidade de Frankfurt, que a considerou pouco convencional. Escreveu peças para rádio, além de artigos para diversos jornais e revistas, entre elas a Zeitschrift für Sozialforschung, revista do Instituto de Pesquisa Social (mais tarde conhecido como 'Escola de Frankfurt’). Alemão, filho de judeus, deixou seu país em 1933 rumo a Paris, onde ficou até a invasão nazista. Em 1940, fugiu ilegalmente para Portbou, Espanha, onde suicidou-se para não ser capturado pela Gestapo. Benjamin deixou vasta e brilhante obra literária, além de ter contribuído enormemente para a teoria estética, para a filosofia, para o pensamento político e para a história.