O leitor deste sexto volume de Cadernos do cárcere encontrará passagens iluminadoras sobre a ‘grande’ e a ‘pequena’ literatura: Dante, Manzoni, De Sanctis, Pirandello e de autores de folhetins para os quais Gramsci elaborou uma leitura renovadora, aproximando-os dos forjadores dos futuros ‘super-homens’.
Esta edição brasileira dos Cadernos do cárcere foi organizada por Carlos Nelson Coutinho — reconhecido internacionalmente como um dos maiores especialistas no pensamento de Gramsci —, com a colaboração de Luiz Sérgio Henriques, ensaísta, tradutor e editor da revista eletrônica Gramsci e o Brasil, e de Marco Aurélio Nogueira, professor livre-docente da Universidade Estadual Paulista.
Os 6 volumes dos Cadernos do cárcere se dividem, segundo indicações do próprio Gramsci, em ‘cadernos especiais’ e ‘cadernos miscelâneos’. Nos primeiros, Gramsci agrupou notas sobre temas específicos; nos segundos, reuniu apontamentos sobre assuntos diversos. Além de reproduzir os ‘cadernos especiais’ tais como nos foram legados pelo pensador italiano, esta edição inclui as notas contidas nos ‘cadernos miscelâneos’, relativas ao conteúdo básico de cada um dos ‘cadernos especiais’.
O volume 6 contém quatro desses ‘cadernos especiais’: dois dedicados a temas de literatura e arte, um ao folclore e outro à gramática — além da parte do caderno 4 na qual Gramsci dedicou 11 parágrafos à análise do ‘Canto décimo do Inferno’ de Dante. Esses quatro cadernos especiais são seguidos, como nos demais volumes, por uma parte geral intitulada ‘Dos cadernos miscelâneos’, em que são reunidas as notas esparsas que Gramsci dedicou aos temas abordados nos mencionados cadernos especiais: ‘Literatura popular’, ‘Os filhotes do padre Bresciani’, ‘Caráter não nacional-popular da literatura italiana’, entre outros. Também se encontram nessa parte miscelânea as notas dedicadas ao folclore e à gramática. Ao fim do livro, o apêndice reúne índices que ajudam leitores a navegarem nos 6 volumes.
‘Para quem vive no interior de uma formação pós-colonial, como nós, brasileiros, a leitura de Gramsci pode ser fecunda. […] Gramsci augurava a construção de uma vida pública socialista, democrática, leiga e nacional, que os intelectuais orgânicos da classe trabalhadora deveriam promover.’ — Alfredo Bosi
‘Por 'povo' Gramsci entende o conjunto das classes ou grupos sociais subalternos. Mas a noção apresenta uma dialética interna, ligada à sua própria explicitação numa rede de relações que chega até o vínculo, ainda que problemático, com a totalidade social. […] Não se trata de uma relação estática, mas dinâmica. E a parte popular de uma nação supera a própria dimensão nacional e se põe como membro da classe internacional.’ — Giorgio Baratta
Sobre o autor
Antonio Gramsci (1891 – 1937) foi um filósofo, jornalista e político italiano. Foi membro-fundador e secretário-geral do Partido Comunista da Itália. Em 1924, foi eleito deputado, mas não terminou o mandato porque foi preso pelo regime fascista ascendente de Benito Mussolini. Em 1934, com a saúde prejudicada após internações consecutivas, Gramsci recebeu a liberdade condicional para que pudesse se recuperar. Ele morreu logo depois, aos 46 anos. Não publicou nenhum livro em vida. Os Cadernos do cárcere são uma reunião dos manuscritos de Gramsci, feitos em cadernos escolares entre 1929 e 1935, e representam a obra máxima de seu pensamento inovador. Sua crítica ao marxismo extrapolou os limites do pensamento socioeconômico e da organização política, sendo ele pioneiro no debate sobre hegemonia cultural. A filosofia de Gramsci se tornou notável tardiamente pois a primeira edição integral dos Cadernos só foi publicada em 1975, na Itália. Ele é considerado um dos pensadores mais influentes da esquerda brasileira durante o processo de reorganização partidária promovida pela abertura política, após a derrocada do regime militar (1964 – 1985).