A eternidade conforme os astros, é, sem sombra de dúvidas, uma das obras mais intrigantes legadas pelo século XIX. Seu autor, Louis-Auguste Blanqui (1805-1881), foi uma figura-chave dentre os revolucionários daquele século. Ele encarnou como poucos a face ativista da Modernidade que despontava então. Se é verdade que a Modernidade foi inaugurada pela Revolução Francesa, uma de suas principais lições é que os homens podem fazer o seu destino com as próprias mãos. Desde 1827, no combate contra Carlos X, a vida de Blanqui foi marcada pela participação em atos revolucionários, sempre entrelaçando a paixão e a violência revolucionária como dois impulsos irmãos, que acabaram o condenando a passar 37 anos de sua vida na prisão. Sua última libertação se deu em 1879, graças às campanhas de Victor Hugo e de Georges Clemenceau.
Foi na prisão que ele escreveu este singular texto sobre os astros, no qual propõe uma visão da história que explode com a ideologia do progresso, mas que também, paradoxalmente, suspende o ato revolucionário.
A Comuna de Paris de 1871 não pode ser entendida sem a participação dos blanquistas. Blanqui mesmo foi preso na sua véspera, e um ano depois escreverá sua A eternidade conforme os astros.
Tabela de Conteúdo
Sumário
Apresentação
O eterno retorno e o sempre-igual: A imortalidade conforme Blanqui por Márcio Seligmann-Silva, 9
Prefácio por Jacques Rancière, 27
A eternidade conforme os astros, 43
Posfácio
Eterna e astral, uma revolução ao pé da letra por Lisa Block de Behar, 105
Sobre o autor
Auguste Blanqui nasceu em 1805 e morreu em 1881. O movimento revolucionário do século XIX é incompreensível sem estudar a sua figura e atualizar, com perguntas renovadas, suas indagações sobre essa particular modulação do tempo que chamamos eternidade. E, nesse sentido, também recebe Blanqui a apostura de um pensamento capaz de interrogar por inteiro os legados ideológicos com que contamos nos inícios do século XXI. Com maior ou menor razão, Blanqui costuma ser considerado como antecedente das teorias de partido político desenvolvidas décadas depois pelo leninismo. O texto que agora publicamos, mais que desmentir essa asserção, a insere noutra dimensão, em que haverá de conviver com os requerimentos mais dramáticos em torno da pergunta sobre a ideia do tempo, do infinito, da morte e do cosmos que possuem os revolucionários. No breve tempo dos sempre lembráveis acontecimentos da Comuna de Paris, Blanqui permaneceu preso no forte de Taureau. Seus anos de prisão foram muito longos. Blanqui é o grande preso político do século XIX, como Gramsci o foi no século XX. Permaneceu 37 anos na prisão, pelo que, na lenda revolucionária da Europa insurrecional, foi chamado de L’Enfermé, o Enclausurado. Em 1871, no ano da Comuna, é que escreve A eternidade conforme os astros, do qual muitas vezes tem se dito que antecede o ‘eterno retorno’ de Nietzsche. A influência de Blanqui sobre a obra posterior de Walter Benjamin é notória, e foi Benjamin quem fez dele uma personagem central de sua obra Passagens. Na Argentina, esta obra de Blanqui não passará despercebida para Borges, que a tem presente em sua História da eternidade.
HORACIO GONZÁLEZ