Foi com a publicação de O ser e a essência (1948) que Gilson verdadeiramente irrompeu no debate filosófico contemporâneo, constrangendo muitos daqueles que só tinham ouvido falar do ser por intermédio de O ser e o nada (de Jean-Paul Sartre) ou do primeiro capítulo da Wissenschaft der Logik (A ciência da lógica, de Hegel) a admitir que esta pequena palavra, ‘ser’, que certa tradição idealista havia tentado inutilmente banir do vocabulário filosófico, abrigava, talvez, se não o destino do ‘Ocidente’, ao menos o lugar de uma de suas mais antigas e constantes querelas. Muitos se convenceram, ao ler Gilson, de que São Tomás teria ocupado nesse debate um lugar no mínimo original e importante, o qual não poderia mais ser ignorado, ainda mais – e sobretudo – ao se querer tomar partido na polêmica que então o existencialismo conduzia contra o suposto essencialismo de toda a tradição. Em suma, independentemente de suas virtudes próprias, este livro, desta vez reconhecido imediatamente como um livro de um filósofo, ainda que também seja um livro de historiador, teve, ao mesmo tempo, o mérito e a sorte de vir em boa hora, de responder à expectativa difusa de um público filosófico que acabava de ‘descobrir’, por meio de Sartre e sobretudo de Heidegger, a importância e – poder-se-ia dizer – a atualidade persistente da questão: o que é o ser?
Pierre Aubenque, Étienne Gilson et nous, p. 79.
Sobre o autor
Étienne Gilson (1884-1978), depois de ensinar História da Filosofia em Lille e Estrasburgo, chegou à Sorbonne em 1921, onde acabava de ser criado um curso de História da Filosofia Medieval. Em 1923, tornou-se professor no Collège de France, ocupando a cátedra de História da Filosofia até sua aposentadoria, em 1951. Também lecionou em Harvard e Toronto. Foi membro da Academia Francesa.
Pela PAULUS, foram publicadas suas obras: Introdução ao estudo de Santo Agostinho (coedição com Discurso Editorial, 2007), O filósofo e a teologia (coedição com Academia cristã, 2008), Por que São Tomás criticou Santo Agostinho? – Avicena e o ponto de partida de Duns Escoto (2010) e A teologia mística de São Bernardo (2016).