Fruto de uma investigação transnacional realizada no decorrer de 2018 e 2019 e de um profícuo diálogo envolvendo as duas autoras e o autor, esta obra analisa as relações entre gênero, religião, direitos e democracia na América Latina. Com o fim da chamada ‘onda vermelha’ na região, é significativo o aumento da atuação de católicos e evangélicos conservadores na política, com forte reação às políticas de equidade de gênero, direitos LGBTQI e saúde reprodutiva.
Flávia Biroli, Maria das Dores Campos Machado e Juan Marco Vaggione destacam o uso, por agentes conservadores, de expressões como ‘ideologia de gênero’, ‘feminismo radical’ e ‘marxismo cultural’ para justificar normas que promovem exclusões, vetos a perspectivas críticas e o fim de políticas públicas importantes para mulheres e minorias, corroendo, por dentro, a democracia na região. Não bastassem as consequências para mulheres e populações LGBTQI, em muitos países a recusa desses direitos vem acompanhada de políticas que transformam movimentos sociais em inimigos e, por meio de diferentes estratégias, procuram subtrair legitimidade às agendas de justiça social.
Num esforço de compreensão dos padrões atuais da reação ao gênero, o livro desenvolve uma moldura teórica em que o conceito de neoconservadorismo tem especial relevância. A disputa entre moralidades, analisada ao longo dos três capítulos que compõem a obra, inclui novos padrões de ação e de mobilização de enquadramentos, que abrem oportunidades para lideranças de extrema direita, colocam em xeque valores democráticos e reforçam tendências autoritárias.
Sobre o autor
Flávia Biroli é doutora em história pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É professora associada do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, do qual foi vice-diretora entre 2011 e 2015, e pesquisadora do CNPq. É autora, entre outros, de Autonomia e desigualdades de gênero: contribuições do feminismo para a crítica democrática (Eduff /Horizonte, 2013), Feminismo e democracia (com Luis Felipe Miguel, Boitempo, 2014), Família: novos conceitos (Perseu Abramo, 2014) e Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil (Boitempo, 2018).
Juan Marco Vaggione é doutor em direito pela Universidade Nacional de Córdoba (UNC), na Argentina, e em sociologia pela New School for Social Research, nos Estados Unidos. É professor titular de sociologia da Faculdade de Direito da UNC e pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet). Atualmente, dirige o Programa de Direitos Sexuais e Reprodutivos da Faculdade de Direito da UNC. É autor, entre outros, de Laicidad and Religious Diversity in Latin America (com José Manuel Morán Faúndes, Springer, 2017) e El aborto en América Latina: estrategias jurídicas para luchar por su legalización y enfrentar las resistencias conservadoras (com Paola Bergallo e Isabel Jaramillo, Siglo Veintiuno Editores, 2018).
Maria das Dores Campos Machado é doutora em sociologia pela Sociedade Brasileira de Instrução do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (SBI/Iuperj). É professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora voluntária do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da mesma universidade. É autora, entre outros, de Carismáticos e pentecostais: adesão religiosa e seus efeitos na esfera familiar (Editores Autores Associados/Anpocs, 1996); Política e religião (Fundação Getulio Vargas, 2006); Os votos de Deus (com Joanildo Burity, Massangana, 2006) e Religiões e homossexualidades (com Fernanda Delvalas Piccolo, Fundação Getulio Vargas, 2011).