Esses sessenta e um poemas e sete textos em prosa poética da chilena Gabriela Mistral, laureada com o Prêmio Nobel de Literatura de 1945, foram escolhidos e traduzidos por Henriqueta Lisboa para compor a antologia Poesias escolhidas de Gabriela Mistral (Editora Delta, 1969), organizada pela própria Henriqueta Lisboa para a Biblioteca dos Prêmios Nobel de Literatura, patrocinada pela Academia Sueca e a Fundação Nobel.
São canções, poemas de amor e outros em prosa que a modernista mineira escolheu da obra de Mistral, com quem compartilhava o gosto pela infância e a educação. Nesta reedição, desta vez bilíngue, privilegia-se o trabalho de tradução e o papel de mediação cultural da tradutora, a partir da convivência e amizade pessoal e intelectual entre as duas, um dos pontos de conexão que concretizava a aspiração de uma rede de escritoras latino-americanas já na primeira metade do século XX. Com prefácio de Reinaldo Marques e depoimento da tradutora ao final do livro.
Sobre o autor
Gabriela Mistral (1889-1957) foi uma poetisa, educadora e diplomata chilena, primeiro nome da América Latina a vencer o Prêmio Nobel de Literatura. Gabriela Mistral, pseudônimo literário de Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, nasceu em Vicuña, no Norte do Chile, no dia 7 de abril de 1889. Era filha de um professor, descendente de espanhóis e índios. Desde cedo, demonstrou um interesse duplo: tanto pela escrita como pela docência. Com 16 anos decidiu se dedicar à carreira de professora. Quando estava com 18 anos, seu namorado se suicidou, fato que marcou sua obra e sua vida. A notoriedade a obrigou a abandonar o ensino e a desempenhar diversos cargos diplomáticos na Europa, Estados Unidos e América Latina. Em 1926 foi nomeada secretária do Instituto de Coperación Intelectual de la Sociedade de Naciones. Representou o Chile em um Congresso universitário em Madri e pronunciou uma série de conferências sobre o desenvolvimento cultural norte-americano, nos Estados Unidos. Gabriela Mistral foi nomeada Consulesa do Chile e representou seu país em Nápoles, Madri, Lisboa e no Rio de Janeiro. Nos anos 30 e 40, ela era considerada um ícone da literatura latino-americana. Em 1945, Gabriela Mistral recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, se tornando o primeiro nome da América-Latina a vencer essa premiação – na época, morava em Petrópolis, no Rio de Janeiro. O Prêmio Nobel a transformou em figura de destaque na literatura internacional e a levou a viajar pelo mundo e representar seu país em comissões culturais das Nações Unidas. Logo que chegou ao Brasil, fez amizade com Cecília Meireles – lançaram um livro de poemas junta. Fez amizades literárias com Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Assis Chateaubriand e seu predileto, Vinícius de Moraes. Conheceu Mário de Andrade através de Cecília.
Henriqueta Lisboa (1901-1985), poeta mineira considerada pela crítica um dos grandes nomes da lírica modernista, dedicou-se à poesia, ensaios e traduções. Nasceu em Lambari, Minas Gerais, em 15 de julho de 1901, filha do farmacêutico e deputado federal João de Almeida Lisboa e de Maria Rita Vilhena Lisboa. Formou-se normalista pelo Colégio Sion de Campanha, MG, e, em 1924, mudou-se para o Rio de Janeiro. Dedicou-se à poesia desde muito jovem. Com Enternecimento, publicado em 1929, de forte caráter simbolista, recebeu o Prêmio Olavo Bilac de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Aderiu ao Modernisno por volta de 1945, fortemente influenciada pela amizade com Mário de Andrade, com quem trocou rica correspondência entre os anos de 1940 e 1945. Sua produção inclui, além da poesia, inúmeras traduções, ensaios e antologias. Foi a primeira mulher eleita para a Academia Mineira de Letras em 1963. Em 1984, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra. Foi professora de Literatura Hispano-Americana e Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica (Puc Minas) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Poeta sensível, dedicou sua vida à poesia. Considerada um dos grandes nomes da lírica modernista pela crítica especializada, Henriqueta manteve-se sempre atuante no diálogo com os escritores e intelectuais de sua geração e angariou muitos leitores ilustres durante sua vida, dentre eles Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Gabriela Mistral. Henriqueta faleceu em Belo Horizonte, no dia 9 de outubro de 1985. Seu Centenário foi comemorado ao longo do ano de 2002 e, além de inúmeros eventos culturais em sua homenagem, várias reedições de sua obra foram feitas com o objetivo de revelar a força de sua poesia para os jovens de hoje.