Em O que não se pode dizer, amigos de longa data compartilham por cartas suas expêriencias de exílio político, compartilhando segredos íntimos e temores sinistros em relação ao cenário político atual.
A ascensão de um governo fascista no Brasil, após as eleições de 2018, e o crescimento escalonado e obscurantista das redes de ódio, na internet e nas ruas, obrigaram Marcia Tiburi e Jean Wyllys a deixarem o país, tendo o exílio como a última alternativa para preservar a própria vida. O que não se pode dizer: Experiências do exílio reúne trocas de cartas entre a renomada filósofa e ex-deputado federal e ativista dos direitos humanos.
Amigos de longa data, eles compartilham nestas cartas angústias muito parecidas. Contudo, diferem na maneira particular de lidar com os contratempos, preocupações e ansiedades. Retirados forçosamente da vida social e da luta política na qual são referência, Marcia e Jean refletem sobre a sanha persecutória que os levaram ao exílio e as estranhezas de se verem repentinamente vivendo em outro país.
As cartas apontam uma leitura de mundo aguçada para entendermos o nosso momento político, além de confessarem segredos íntimos e temores sinistros que, somados neste livro, revelam um registro emblemático dos riscos à vida que rondam o nosso tempo presente. Especialmente em torno das minorias e de quem discorda do alinhamento moral, político e religioso dos antidemocratas radicais.
Sobre o autor
Marcia Tiburi (Vacaria/RS, 1970) é professora de filosofia e feminista. Mestre e doutora em filosofia e graduada em filosofia e artes plásticas, em 2018, candidatou-se ao governo do estado do Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores. É autora de vários ensaios, entre eles Como conversar com um fascista (Record, 2015), Feminismo em comum (Rosa dos Tempos, 2018) e Complexo de vira-lata (Civilização Brasileira, 2021), além dos romances Uma fuga perfeita é sem volta (Record, 2016) e Sob os pés, meu corpo inteiro (Record, 2018), entre outros. Atualmente é professora na Universidade Paris 8.
Jean Wyllys (Alagoinhas/BA, 1974) é jornalista, escritor e artista visual. Mestre em letras e linguística, pesquisador da Open Society Foundation e professor-visitante na Universidade de Harvard, é doutorando em ciências políticas na Universidade de Barcelona. Autor de cinco livros, sendo o mais recente O que será (Objetiva, 2019), é ativista de direitos humanos com prestígio internacional, em especial na área dos diretos das pessoas da comunidade LGBTQIA+. Exerceu dois mandatos consecutivos como deputado federal (2011-2018) pelo Partido Socialismo e Liberdade. Ganhou prêmios internacionais por sua atuação intelectual e política e figurou entre as cinquenta pessoas que mais defendem a diversidade no mundo, em lista feita pela revista The Economist.