A característica memorialista de José Lins do Rego é expressada de diversas formas nas suas obras. Seja por meio dos fragmentos da sua vida que são impressas na jornada de Carlinhos, protagonista de três livros do Ciclo da cana-de-açúcar, ou até mesmo na forma que ele aborda o movimento do canganço em Pedra Bonita e Cangaceiros, ambos lançados pela Global Editora em 2022, ele explora seus sentimentos (de forma direta ou indireta) sempre com o dom que bons romacistas tem de reproduzirem suas próprias memórias em livros. Em Meus verdes anos isso fica evidente. Em Meus verdes anos, o autor continua com o contexto social e politico ainda muito presente, mas usa dos mesmos para contar um pouco das suas experiências na infância: a forma como chegou no engenho do avô, como observava a relação do senhor do engenho com seus empregados, a forma como se sentia solitário na vida, abandonado por todos ao seu redor. Ao mesmo tempo, contextualiza o espaço ao seu redor mostrando situações como a disparidade de poder, a fome, febres e outros problemas do engenho, tudo isso sem perder a qualidade ingenua e doce do olhar de uma criança. Zé Lins fecha o livro dizendo: ‘Lá se for a ele com os cantos que enchiam de alegria as minhas madrugadas de asmático. Lá se perdia ele para sempre, assim como estes meus verdes anos que em vão procure reter’. Com um saudosismo claramente expresso nas suas palavras, ele fecha uma narrativa que é sobre infância, amadurecimento e uma época que não volta mais
Sobre o autor
Ave, palavra, é um livro Póstumo do Guimarães Rosa publicado em 1970. A composição final do original seria concebida pelo amigo e escritor Paulo Rónai, que, ao lado dos textos indicados por Rosa para integrar o livro, acabaria adicionando outros que o ficcionista mineiro havia começado a rever. O livro distingue-se dentro do amplo espectro da obra do autor por reunir textos de diferentes gêneros.
Podem ser destacados três dos vários instantes extraordinários deste livro. ‘Fita verde no cabelo (Nova Velha estória)’ configura-se numa criativa evocação do célebre conto de fadas ‘Chapeuzinho Vermelho’. Os poemas que integram o livro, por sua vez, indiciam que, apesar de ter se dedicado com inconstante frequência a criar versos ao longo de sua vida, foram certeiras as ocasiões em que Rosa se rendeu à arte poética. Cabe ainda destacar em Ave, palavra a declaração repleta de amor ao seu Estado natal, estampada no sublime texto ‘Minas Gerais’.